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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

cqc

"miss universo é a maior marmelada! você já viu alguma mina de saturno ganhar?" (marco luque)

almeida prado

sérgio medeiros







vinte de novembro

PARA DOMINGOS JORGE VELHO

DOMINGOS, bem que você poderia
Ter sido menos canalha!
Está certo que eras um filho da Coroa,
Súdito leal,
E os negros de Palmares...
Ora, negro é negro.

Jorge meu caro
Entendo que estivesses vendo seu lado,
Ouro, carne-seca, farinha, eram bem pagos

VELHO, o que me dói e o fato de teres com alguns milhares
De porcos dizimados um sonho
Justo de Liberdade.
E ainda por cima voltaste com
Três mil orelhas de negros,
TRÊS MIL!
Ontem senti um tremendo nojo
Quando te vi como herói no livro
De História do meu filho.
Mas no fim muito bom
Porque veio de novo a vontade
De reescrever tudo
E agora sem heróis como você
Que seriam no máximo, depois de revistos,
Assassinos, e bem baratos.

Atenciosamente
UM NEGRO

(José Carlos Limeira nasceu na Bahia, em 1951. Publicou e editou os livros de poesia Lembranças, 1971, Zumbidos, 1972, O Arco-Íris Negro, 1979, e Atabaques, 1984, ambos em parceria com Éle Semog. Participou de AXÉ – antologia contemporânea da poesia negra brasileira – da Global Editora, 1982. Tem poemas traduzidos e publicados em revistas dos EUA e República Federal Alemã.)

Fonte: Antologia da Poesia Negra Brasileira: o negro em versos. Organização e apresentação de Luiz Carlos dos Santos. 1ª. ed. SP: Moderna, 2005 (Lendo & Relendo), p.109.