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quarta-feira, 23 de março de 2011

professor cavalcante


'Trabalho', pedido pelo prof. josé cavalcante de souza, no segundo período de filosofia da unicamp. a avaliação so semestre inteiro era essa página, tradução dum trecho de platão que ele vinha lendo nas aulas.
Naquele tempo não se pediam artigos científicos, ensaios, mas 'trabalhos'. No caso, depois de ter dado um primeiro semestrecom aulas lendo e comentando a apologia de sócrates e o banquete.
Do que o prof. cavalcante grifou (em azul), percebo 'a este logos', provavelmente porque deixei de traduzir 'logos' e não me arrisquei em algumas das possibilidades.
Mais abaixo, a tinta da caneta é outra, mais porosa (minha letra corrigindo antes de entregar pra ele), a palavra 'grandes' está riscada, e 'supremos' escrito acima dela.
Não entendo também hoje o grifo a 'formos'.
'Ao menos' também foi inserido por mim, entre 'conheçamos' e 'algo'.
Embaixo: a caligrafia de 'outro lado', como sugestão para 'por sua vez' é dele.
O professor José Cavalcante de Sousa era graduado em Letras, e dava as principais aulas do curso de Filosofia da Unicamp, desde seu início, em 1988. Ele não pedia mais que isso como avaliação, uma página de texto, traduzido diretamente do grego por nós, no final do segundo período. Ele corrigiu esta página, e na seguinte encontrou tantos defeitos que deve ter me aprovado (com 6,0, na página de rosto que perdi) por ter feito apenas o trecho que ele havia determinado, numa das últimas aulas. Nós não utilizávamos as traduções para o português, mas havia a de carlos alberto nunes e da universidade federal do pará. (lsd)

ney tatuagem

“Em 1997, na cidade de Salvador, tomo conhecimento de um fato canibal ocorrido na região próxima, na famosa e estigmatizada Arembepe, distrito de Camaçari. Ali, um grupo de famintos teria morto e devorado o caseiro de uma chácara que atendia pela alcunha de Galego. As páginas policiais traziam, na sua forma costumeiramente melodramática, a notícia:

‘A fome e a miséria estão engendrando uma nova forma de crime na Bahia: o canibalismo. Foi desta forma, com partes arrancadas e até salgadas, que o caseiro de um sítio situado na localidade conhecida com Monte Negro, próximo à via do Parafuso (quilômetro 12), foi encontrado morto. A vítima foi identificada como sendo Joseval Barbosa do Nascimento, 20 anos, conhecido por Galego, que cuidava do sítio de um fazendeiro conhecido como Branco.’ (A Tarde, 02/11/1997)

“Depois de terem sido apresentados o que seriam as causas do crime e seus possíveis autores, o relato tenderia a desaparecer na sucessão de ocorrências violentas e de importância breve que aparecem nos jornais das grandes cidades. Contudo, mais alguns dias, os jornais traziam a notícia de que uma moça havia sido seqüestrada por um marginal e que ele, somente ele, seria o canibal que atacara o caseiro. Segundo os jornais, a moça teria sido [...] obrigada a presenciar o assassinato e a devoração. Mais tarde, ela havia conseguido fugir de seu seqüestrador e, afinal, colaborava com a polícia para sua captura. O assassino, denominado ‘Canibal’ pela imprensa, passa a ser ‘caçado’ pela polícia, que seguia as indicações dadas pela moça. Nas páginas policiais, encontramos um novo capítulo dos fatos de Camaçari descritos em linhas cada vez mais fortes pelo repórter:

‘O criminoso, que está sendo caçado na região, segundo o testemunho de uma mulher, devorou o fígado e o coração da vítima, ainda sangrando. O sangue se espalhou pelo corpo e pelo rosto dele, que mais parecia um bicho, de acordo com o relato de uma jovem que estava como ele.’ (A Tarde, 03/11/1997)

“A notícia seguinte trazia um nome para o canibal, que passou a ser chamado de Ney Tatuagem, e dizia que ele teria resistido à prisão, sendo morto em confronto com a polícia. [...]

“O primeiro elemento que se destaca dessa história está no fato de Ney Tatuagem ser um ‘rastafari’, ou seja, portava um penteado que marca sua identidade negra, e sua vítima ter o apelido de ‘Galego’, nome que fora depreciativo no passado colonial e com o qual tradicionalmente se nomeia os brancos (portugueses) ou pelo menos os de pele mais clara; além disso, o dono do sítio, conforme o trecho citado acima, também é identificado como ‘Branco’. A partir dessas definições identitárias, podemos afirmar que também neste caso de canibalismo havia duas expressões de identidades que se mostram contrastantes: um negro, mais que isso, um homem que se afirmava positivamente como negro, e um homem claro, cuja identidade se limitava a uma marca distintiva de ‘branco’ ou claro.

“Ney Tatuagem, ao se dirigir para o local do crime, disse para a moça seqüestrada que iria fazer uma coisa que o tornaria horrível para sempre diante de seus olhos dela. Depois do crime, um diálogo estranho ocorreu entre eles [...]: ‘A garota disse que perguntou para o desconhecido: “Pelo amor de Deus, você é um ser humano?” Ele respondeu muito rapidamente: “Sou o Satanás”’ ”

“No corpo do Canibal, encontrava-se tatuada a imagem de um índio americano, o que por si só não pode ser associado ao gesto extremo do homem. Contudo, entre as muitas tatuagens que recobriam o corpo de Ney, em seu dorso, de maneira bem visível, encontra-se a imagem de uma caravela. O ciclo temporal se fecha; de alguma forma Ney Tatuagem se ligava ao passado do Descobrimento do Brasil, quando tribos antropófagas ocupavam o litoral baiano até serem massacradas pelos homens brancos que vinham colonizar o Novo Mundo, justamente em caravelas.

“[...] Ney Tatuagem viveu brevemente no mundo midiático, foi fixado por ele com a velocidade anunciada por Andy Warhol [os “15 minutos de fama”], e desapareceu. [...] Ney sintetizou, em seu corpo, em seus atos de violência, o imaginário da antropofagia: índio, caravelas, animalidade [...]. Foi entendido e morto como um animal. Caçado pela polícia, foi abatido em tocaia e teve seu corpo seminu exposto na mídia, último lugar de sua existência, na qual obteve uma sobrevida. [...] O exame do IML constatou que o Galego morrera como nos rituais tupinambás, com uma pancada na cabeça. [...] Com a devoração, seu objetivo era partilhar de poderes sobrenaturais que, segundo a moça, ele afirmou, o tornariam invisível à polícia.

“O resultado de seu empreendimento foi justamente o contrário. Apagado do convívio social, vivendo no meio do mato sem nenhum abrigo, cozinhando sem fogo, Ney possuía uma invisibilidade que, na ótica urbana, lhe conferia uma animalidade e ao reforçar essa animalidade tornou-se visível pelo horror que causa na sociedade que visa apenas aprimorar a humanidade através do irrestrito controle de seus membros. Se o crime o tornou visível através da mídia, também o condenou ao desaparecimento físico. Para a polícia, acostumada a exercer a violência contra suspeitos, Ney Tatuagem não poderia ser um homem garantido pelos ‘direitos humanos’, sua condenação já estava posta em seus gestos, sua morte tem características de execução.”

(ALMEIDA, Maria Cândida Ferreira de. “O Último Canibal”. In: Tornar-se Outro: o topos canibal na literatura brasileira. São Paulo: Annablume, 2002. pp.270-275)

formatura na ages, 19/03/2011


1 - eu tava no centro esquerdo, sentado. glaydston, de costas, no canto direito.
2 - prof. wilson e fátima, transmitindo a luz do saber.
3 - profs. lucas e sílvia, coordenadores de contábeis e adm; meirilaine (de quem roubei as fotos), manoel, valdirene (madrinha) e eu.
4 - vista dos formandos, no anfiteatro - érica (madrinha) e augusto, com a cabeça abaixada.
5 - formandos de direito, com prof. rusel e profa tanise (coordenadora do curso), na igreja, na véspera.
6 - com marcos alvino, antes da cerimônia.