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quinta-feira, 28 de abril de 2011

sombras de arte

Obra de 'shadow art': o metal retorcido, devidamente iluminado pelo ângulo correto, projeta uma sombra impossível de adivinhar vendo apenas o objeto sem seu complemento fantasmático: a palavra 'liberdade', em inglês. Mais 20 exemplos de 'shadow art'.

castro alves


A) “Era então um bello rapaz, de porte esbelto, tez pallida, grandes olhos vivos, negra e basta cabelleira, voz possante e harmoniosa, irreprehensivelmente vestido de preto, dons e maneiras que impressionavam á multidão, impondo-se á admiraçâo dos homem e ás mulheres inspirando os mais ternos sentimentos.”
(PEIXOTO, Afrânio. Castro Alves: o poeta e o poema (1922).

B) “Cada poeta romântico tem uma fisionomia mais ou menos convencional, composta pelo nosso espírito com farrapos da sua vida, poemas, aparência física. A de Castro Alves ressalta imediatamente como o bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. Talvez por sentir tanta obscuridade em torno de si – cativeiro, ignorância, opressão – a sua poesia faz um consumo desusado de luz; e esta luminosidade o envolve num halo perene [...].
“Na própria visão que temos dele sobressai, pois, de início, o contraste das trevas espancadas pela luz, para destacar a sua máscula energia de poeta humanitário.”
(CANDIDO, Antonio. “Poesia e Oratória em Castro Alves”. In: _______. Formação da Literatura Brasileira, II, p.241).



C) “[Castro Alves] desenvolveu, nas academias de Direito, nos teatros, nas praças públicas e em alguns salões do Recife e de São Paulo, uma desabrida campanha a favor dos novos ideais políticos do republicanismo, dos novos ideais de liberdade do espírito e da palavra, e mais veementemente e insistentemente, porque o momento pedia, em favor dos ideais da abolição da escravatura.
“Dos livros Os escravos e A Cachoeira de Paulo Afonso, se bem tenha o segundo, tão logo publicado em 1876, grande popularidade (compreensível, pelo que tinha e de fácil entendimento), não há dúvida de que o primeiro, publicado mais tarde (1883) é o melhor.”
(AMORA, Antonio Soares. O Romantismo, p.190.)

D) “Mário de Andrade conclui criticando Castro Alves por ‘jamais’ erguer ‘os escravos até sua altura’, mas por se abaixar ‘até seus irmãos inferiores [sic]’.”
(ANDRADE, Mário de. “Aspectos da Literatura Brasileira” (1939), pp. 109-123. Apud MAESTRI, Mario. A Segunda Morte de Castro Alves: genealogia crítica de um revisionismo. Passo Fundo-RS: UPF, 2000. p.67.)

E) “Em março de 1941, em plena guerra mundial, dois anos após a crítica de Mário de Andrade, Jorge Amado, que apenas publicara seus primeiros romances de sucesso, escrevia um ABC de Castro Alves. [...] arremete com vigor contra o estudo de Mário de Andrade, que define como modelo ‘perfeito’ de ‘incompreensão’, no qual o autor [MA] quase chega a ‘odiar o poeta social’; [...].
“O escritor baiano não se propôs a fazer historiografia, nem mesmo biografia. Nas páginas introdutórias deixa claro que se permitiu ‘liberdades’ na ‘biografia’ do filho dileto da Bahia, a quem ‘louvara’. Despreocupado com o método historiográfico, declara irreverentemente: ‘Que se danem os historiadores!’ Jorge Amado alerta nas páginas de abertura de seu ABC de Castro Alves que ‘sua verdadeira bibliografia’ foram ‘as poesias’ do poeta.”
(AMADO, Jorge. ABC do Castro Alves (1941). Apud MAESTRI, Mario. Op.cit., p.71)

F) “Em 1953, Jamil Almansur Haddad, polemizando com aqueles que propunham que praticamente tudo havia sido dito sobre Castro Alves, publicou uma alentada trilogia sobre o poeta: Revisão de Castro Alves. [...]
“Apenas um exemplo [de “propostas contraditórias, despropositadas e paradoxais” que o “magnífico trabalho” de Haddad lança]: ao utilizar-se do axioma da ‘ortodoxia psicanalítica’, no qual ‘ninguém se acidenta’, Jamil Haddad propõe que a fatalidade das matas do Braz [o tiro no pé] tratara-se de um suicídio inconsciente, o que nos obrigaria a ajuntar às exóticas razões últimas do suicídio avançadas pelo autor – ‘castro Alves suicidava-se porque tarado, suicidava-se porque psicótico’- a constatação da péssima pontaria do poeta.”
(HADDAD, Jamil Almansur. Revisão de Castro Alves (1953). Apud MAESTRI, Mario. Op.cit., p.87)


G) “Alencar ainda pudera fundir índio e português a golpes de folhetim ou no embalo de sua prosa lírica. Mas negro e branco riscavam-se em um xadrez de oposições sem matizes. [...]
“Aquele vago sentimento de dissonância entre as figurações da América e da Liberdade, que já se advertia nos Timbiras de Gonçalves Dias, assume em Castro Alves e nos seus imitadores um espaço amplo de sentido e a dignidade do tema.
“Um primeiro sintoma de mudança percebe-se no tratamento que a nova poesia dá às descrições da natureza americana; esta perde a condição de morada idílica do selvagem para tornar-se pano de fundo de cenas que a mancham. [...] ‘Ao romper d’alva’, ‘América’ e o quadro da floresta pujante que abre A Cachoeira de Paulo Afonso são poemas trabalhados no registro da contradição, pois dissociam francamente o mundo natural, visto como edênico, e o inferno social que a cupidez dos escravistas nele instaurou.”
(BOSI, Alfredo. “Sob o Signo de Cam”. In: _______. Dialética da Colonização, pp.246-247)

H) “A idealização, agindo no terreno lírico, permitiu impor o escravo à sensibilidade burguesa, não como espoliado ou mártir; mas o que é mais difícil, como ser igual aos demais no amor, no pranto, na maternidade, na cólera, na ternura. Esta mesma idealização que já havia dado um penacho medievalesco ao bugre, conseguiu impor a dignidade humana do negro graças à poetização da sua vida afetiva. Castro Alves se tornou o poeta por excelência do escravo ao lhe dar, não só um brado de revolta, mas uma atmosfera de dignidade lírica, em que os seus sentimentos podiam encontrar amparo; ao garantir à sua dor, ao seu amor, a categoria reservada aos do branco, ou do índio literário. O idílio trágico de Lucas e Maria [de A Cachoeira de Paulo Afonso], da parte do leitor, ruptura mais funda de preconceitos que o lamento das “Vozes d’África”.
            “Por estes motivos, talvez A Cachoeira de Paulo Afonso seja o ponto central, o eixo da sua obra, enroupando o tema social do escravo na mais belo tratamento lírico, apesar de defeitos e irregularidades.”
(CANDIDO, Antonio. “Poesia e Oratória em Castro Alves”. In: _______. A Formação da Literatura Brasileira, II, p.249)
 
  I) “A Cachoeira de Paulo Afonso, de Castro Alves, é o lugar de passagem do tópico da mulata faceira, num jogo sedutor romântico, para o tópico da sedução, enquanto agressividade explícita. A violência implícita e esmaecida na linguagem dos pomas anteriores agora é desnudada, na denúncia de Castro Alves. O poeta está exibindo o sadismo do conquistador convertido em violador. O sadismo, conforme Freud, é um exercício da pulsão de dominação. Aqui, a dominação erótica mistura-se à econômica e à social na sociedade escravocrata. [...] O indivíduo pratica um ato canibal e, no caso, oral-sádico.
“Se o corpo do escravo [Lucas] é espoliado, o ventre da escrava [Maria] é explorado, não apenas como o lugar do desejo erótico, mas também como o espaço onde se consubstancia o poder econômico. Caberia lembrar [...] Jacob Gorender, para quem a espoliação do corpo escravo estava sempre vinculada ao sexo.”
(SANT’ANNA, Afonso Romano de. “Castro Alves e a denúncia do social através do sexual”. In: “A mulher de cor e o canibalismo erótico na sociedade escravocrata”. In: _______. O Canibalismo Amoroso: o desejo e a interdição em nossa cultura através da poesia, pp. 44-50.)

J) “[Em A Cachoeira de Paulo Afonso] desloca-se o problema central, que é o da relação de trabalho, de senhorio e escravidão, para uma questão de relações amorosas, sem que na violação destas se tenha propriamente uma representação daquela, menos ainda a de uma perspectiva rebelde. O secundário é tornado principal, para que o principal não apareça. [...]
            “Enquanto o negro trabalhava e apanhava e era vilipendiado pelo branco, não era irmão; de repente, quando o negro pode sair dessa condição, para passar a exigir reparos e direitos, ele se torna irmão, mas só para não reclamar nada.”
(KOTHE, Flávio. O Cânone Imperial. Brasília: Editora da UnB, 2000, p.390)

núpcia virtual

ou seja, não haverá transmissão da noite de núpcias.

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