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terça-feira, 2 de agosto de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

quinta-feira, 30 de junho de 2011

zizek

Cult - O senhor realmente defende uma 'loteria' do poder?
Slavoj Zizek - Seriamente. Quando Veneza era uma superpotência no séculos 14 e 15, suas regras para a eleição eram a coisa mais louca. Não digo loucura completa, com a escolha de idiotas. Há regras para que os idiotas não cheguem lá. Mas, no limite, deve ser uma loteria.
(Revista Cult, ano 14, junho 2011, p.17)

*

os governantes seriam sorteados, e não 'eleitos'. muito melhor que o sistema atual, que permitiu o deputado tiririca.

saramago

quarta-feira, 29 de junho de 2011

guimarães rosa (por joão cabral)

“Eu me lembro que Guimarães Rosa gostava de conversar comigo sobre esse negócio de fabricação da escrita. E ele me mostrava coisas que eu confesso que estranhava. Eu me lembro que quando saiu Corpo de Baile, eu estava no Itamaraty nesse tempo, e então ele me perguntou: ‘Você tá lendo?’ Eu disse: ‘Tô lendo’. ‘Em que parte você está?’ ‘Ah bom, eu não sei em que página estou’. ‘Você já passou naquele pedaço?’ É um conto muito bonito em que tem uma onça ameaçando um rebanho de gado. Então o touro fica no meio, cercado pelas vacas, e fica em pé para enfrentar a onça, se ela ousar se aproximar das vacas que ficam ao redor dele. Não estou bem lembrado, mas parece que a onça avança e o touro mete uma chifrada nela, e está claro que o sangue jorra. Ele me perguntou então: ‘Chegou naquela parte?’ ‘Cheguei’. ‘E você não viu?’. Digo: ‘Não’. Ele diz na passagem que o sangue jorra, ou sai um jato, o sangue brotou como num jato, a idéia é essa. ‘Você viu que no fim daquela frase tem um ponto de exclamação?’ Eu digo ‘Vi’. ‘A gora você não notou no livro que o ponto de exclamação está diferente?’ Eu digo: ‘Não, por quê?’ Ele disse: ‘Porque o ponto de exclamação tem um ponto antes e outro depois’ (Nota:.!.). Eu disse: ‘E daí?’ Ele disse: ‘É para dar a idéia de um jato’. Quer dizer, é um negócio fantástico, ninguém notou isso. Eu notei porque ele me chamou a atenção. Então realmente o que ele fez dá a impressão de uma fonte jorrando. Se você se fixar na tipografia, você vai pensar que aquilo é um erro de revisão. E ele fez aquilo de propósito. E o Rosa tinha dessas coisas, que ao mesmo tempo só ele compreendia, porque se ele não dissesse esse negócio... Vocês teriam notado isso?” (MELO NETO, João Cabral de. Entrevista. 34 Letras. Rio de Janeiro, n.3, março, 1989, pp.27)

rockfilosofia

Rockfilosofia


O gênero musical radical para a cultura

Marcia Tiburi (Cult, ano 14, junho 2011, p.36)

Filósofos pelo mundo afora vêm se dedicando a compreender o fenômeno do rock. Na França e nos Estados Unidos, pensadores escrevem filosofias e ontologias do rock. No Brasil, Daniel Lins vem falando do encontro entre Bob Dylan e Gilles Deleuze. Esta que vos escreve trabalha em um diálogo/rock com o músico Thedy Corrêa. Podemos estabelecer diálogos entre bandas e estilos da vasta história do rock e filósofos da tradição. Podemos tentar entender o que há de filosófico nas letras, canções e performances do rock. A questão do rock é cultural e antropológica e, quando a tratamos como questão filosófica, há um mundo de reflexões a serem construídas.

Podemos vê-lo como questão de linguagem baseada em uma ontologia (do modo existência) da obra gravada. Podemos pensar também no que seria a filosofia depois do advento do rock, pois ele foi uma transformação tão radical da cultura quanto foram a psicanálise e o feminismo, a partir dos quais devemos também pensar a filosofia como experiência reflexiva de um tempo.

Podemos falar de rock como um “cogito do tempo”, como o chamou o filósofo francês Jean-Luc Nancy. Podemos também entender em que sentido o rock é ele mesmo uma expressão filosófica, um método como pensamento-ação-expressão e, nesse sentido, como a própria filosofia pode ser ela mesma um tanto “rock”. Ou rockfilosofia, aquela que, contagiada de rock, propõe pensar dançando, provocando, causando efeitos e livrando-nos de todo autoritarismo.



O grito elétrico como prática estética essencial



Foi Jean-Luc Nancy quem percebeu que o problema do rock já estava de certo modo posto naRepública, de Platão. No livro quarto da utopia platônica, a atenção à música é um problema de educação e de política. A ideia que vinga no texto é a de que é preciso cuidar do que os jovens ouvem, já que “não se podem mudar os modos da música sem abalar as mais importantes leis da cidade”.

Se os modos musicais são sistemas harmônicos que têm correspondência nos afetos é porque eles alteram o modo de ver o mundo. Alteram o sentimento e o comportamento dos jovens. Por exemplo, o modo dórico tem a ver com as virtudes cívicas; o frígio, com as virtudes guerreiras; o lídio, condenado por Platão, com os maus costumes e a embriaguez. A sensação de periculosidade do rock tem sua pré-história.

Nancy vê o rock como algo mais do que musical. Há nele determinado afeto, um pathos. Tal pathostem a ver com a força de contágio que as culturas – até mesmo Platão – perceberam estar na música. No caso do rock, esse pathos tem a ver com “eletricidade”. Tal é, para o filósofo francês, o signo sensível e simbólico do rock. A guitarra elétrica é o instrumento no qual ela se concentra. Ela é o meio que permite a “comunicação de energia” constitutiva do rock, que mudou nosso modo de escutar, de viver e de pensar.

Proponho que pensemos o rock como uma complexa prática estética que é também política e que, tendo sua própria especificidade ontológica como manifestação de vontade (no sentido da vontade da natureza de que falou Schopenhauer), afeta o sentido do mundo. Quero dizer que o que o rock traz ao mundo é uma autorização contra o autoritarismo. Ele faz isso por meio da prática estética que foi recalcada ao longo da história: o grito.

A questão do grito é antiga. A importante obra sobre a escultura do Laocoonte, escrita por Lessing no século 18, põe uma questão simples: poderíamos chamar de bela a escultura, caso a boca de Laocoonte estivesse escancarada? A representação do grito de dor podia mostrar o feio na arte no lugar do belo. A compreensão da arte naquele tempo como representação da beleza – e o inevitável ocultamento – estaria comprometida.

Assim como a arte contemporânea, o que o rock vem fazer no contexto da cultura é justamente mostrar o que não deveria ser mostrado – o que abala a estrutura da cidade, como na República, de Platão. Seu índice é o grito. Como o Uivo, poema de Allen Ginsberg, poeta que encantava figuras como Bob Dylan. Só que o grito do rock não é apenas o uivo da poesia, não é apenas o grito da voz humana do cantor. Ele é o grito da guitarra elétrica, da máquina, o grito que nenhum humano pode dar desde que o próprio humano emudeceu diante do processo histórico e da tecnologia.

O grito do rock é elétrico, é o elétrico como grito. O grito ou a explosão do que, não devendo ser mostrado, todavia apareceu. Isso que nos encanta enquanto nos ensandece, nos irrita, nos afronta e, ao mesmo tempo, quer salvar alguma coisa em nós.

Salvar o quê? O grito é descarga da dor, a interpelação que obriga o outro a ouvir, mesmo quando o que ele diz é apenas mudez. O rock é o inconsciente musical, assim como a fotografia é o inconsciente ótico, na forma de um sintoma social elevado a fenômeno de massa de uma cultura marcada por uma ferida – um trauma – que não deixa de se abrir. Nesse contexto, que o rock sobreviva entre nós é um sinal de que ainda estamos vivos.

(Postado por Assessoria UEPB)

sábado, 25 de junho de 2011

teorias do conhecimento artístico


1. Teorias do conhecimento artístico:
1.1. Introdução: o Construtivismo de Piaget;
1.2. A adaptação do enfoque de Piaget para o campo do desenvolvimento do conhecimento artístico (Howard Gardner);
1.3. Os estágios da apreciação estética, segundo Parsons, e sua revisão por Housen e por Prawat (a partir de HERNÁNDEZ, 2000).

1.1. Piaget

- premissa fundamental: todo conhecimento é resultado da organização de um conhecimento anterior; e toda nova aquisição que tenha aspecto de novidade se coloca em relação ao que se tenha adquirido previamente.
- ou seja, a mente não é uma caixa vazia que a educação vá preencher, ou uma lousa limpa em que se vão acumulando frases, dados, experiências que vêm de fora. O indivíduo está se relacionando sempre com a informação (e não a recebendo de maneira passiva), de várias maneiras e utilizando estratégias diversas.
À medida que vai crescendo, a criança passa de um estágio a outro de desenvolvimento, e assim reestrutura todo o seu modo de pensar sobre temas.
- além disso, para Piaget, os estágios tendem a formar uma sequência estável; eles se dão numa ordem determinada: um estágio posterior só pode ser desenvolvido depois do anterior, porque alcançar o estágio posterior implica dominar operações cognitivas mais complexas que as que caracterizam o estágio anterior.
- essas idéias representavam o pensamento dominante sobre o desenvolvimento cognitivo até os anos 1970. Atualmente, sabe-se que os estágios do desenvolvimento não se apresentam mais como universais, e nem se sucedem assim de maneira linear, ou seja, o acesso a um estágio não implica a imediata superação do anterior.
- além disso, Piaget considerava o ponto culminante desse processo evolutivo do desenvolvimento cognitivo, o pensamento formal vinculado com a lógica científica.
(- há críticos, inclusive, que tacham-no de “positivista”)

- hoje reconhece-se a existência de outros tipos de inteligência, como a musical, corporal-cinestésica, lógico-matemática, espacial, intrapessoal, interpessoal, naturalista, existencialista e até moral, segundo os estudos de Howard Gardner. (no Brasil, Celso Antunes)
- a divisão do desenvolvimento em estágios (inspirada em Piaget), acaba servindo de modelo para explicar também a construção do conhecimento artístico.

*

- Howard Gardner sustenta que as principais aquisições evolutivas para participar plenamente no conhecimento artístico (tanto como criadores quanto como público), acontecem antes dos sete anos de idade.
- ou seja, Gardner adapta o enfoque de Piaget ao campo do desenvolvimento do conhecimento artístico.
- o que há de comum entre Gardner e Piaget é a insistência de que as capacidades de desenvolver o conhecimento artístico não são inatas, naturais, mas devem ser aprendidas (o que vai na contramão da concepção expressionista, espontaneísta, que vem de Lowenfeld (1947) e Herbert Read (Educação pela arte, 1944)).

GARDNER. Arte, Mente e cérebro (1982) (O “projeto zero” das Inteligências múltiplas)
- 2º ano de vida: a criança começa a imitar as ações simples dos adultos; são representações simples, prosaicas e realistas, como quando vai atrás da mãe, enquanto ela varre a casa. Na verdade, é uma imitação seletiva, e não imaginação criativa.
- mesmo assim, essa atividade nos diferencia dos animais e dos bebês de menos de um ano de vida, pois, essa criança já entrou no domínio da atividade simbólica; ela executa uma ação não somente com fins práticos, mas ela pode comer simbolicamente, p.ex., usando gestos simulados e alimentos imaginários. Essas atuações parecem não ter outra finalidade que o mero prazer que dá a atividade de representar.
- entre o 2º e o 3º ano de vida, a criança adquire a capacidade de descontextualização, ou seja, sua atividade de varrer a casa já não acontece somente na hora em que a mãe está varrendo;
- por volta dos 2 e ½, 3 anos, ocorre a substituição de objetos: a criança adquire a capacidade de utilizar uma ampla gama de objetos para representar outro objeto que esteja ausente. Primeiro, de formato semelhante, seis meses depois, poderá usar objetos que não guardem nenhuma semelhança com o elemento que representam, e até mesmo objetos imaginários. [p.ex. varre a casa sem nada que seja a vassoura]
- entre 3 e 4 anos, a criança pode empregar quase qualquer elemento para simbolizar quase qualquer coisa;
- na fase de simbolização coletiva, teremos uma série de objetos – ou grupos de crianças – que representarão, p.ex., os membros de uma família preparando uma comida.
- durante o 4º ano, a ação desse jogo passa a ser recolhida pela linguagem.
- entre os 4 e 5 anos,a linguagem narrativa predomina, e a imaginação passa a ser, textualmente, imaginação literária.
- nesse estágio, a criança descobre as estruturas narrativas, mas está ausente de suas narrativas o aspecto essencial do conto: algum problema ou conflito que o protagonista enfrenta, e sua solução.
- então, p.ex., se se coloca o problema de uma menina que está sendo perseguida por um leão, uma criança de pouco mais de 3 anos fará com que ela seja levada para longe do leão, declarando que ‘agora está a salvo’; uma um pouco maior poderá já expressar essa solução num nível puramente verbal, como dizendo, simplesmente, que ‘a menina foi pra casa, e agora está a salvo’.
- a tarefa mais difícil que a criança tem de efetuar é o reconhecimento de que, realmente, a menina tem que ser salva, mas que somente algumas soluções são aceitáveis dentro de um relato. Somente aí, então, é que ela percebe que a continuação da história deverá ter alguma coerência com os demais aspectos implícitos da narração, e transformará o leão em uma criatura diferente, ou conferirá novos poderes à menina.
- a partir daí, a criança será capaz de extrair certos esquemas ou modelos convencionais do reino da narrativa, como o modelo da ‘história de monstros’, ou do ‘conto de fadas’, e assim, poderá contar com uma fórmula para resolver o problema (‘e viverão felizes para sempre’). Nesse momento, na verdade, a criança se assemelha àquela muito menor que somente imita a mãe, pois ela repete essas fórmulas sem compreendê-las de todo.
- a criança então vai captando cada vez melhor os problemas nucleares da narração, e o seu conhecimento da estrutura narrativa experimenta um avanço importante:
            - aos 2, 2,5 anos, a criança só consegue manejar um único episódio, um agente que executa uma única ação, como por exemplo, o médico que aplica uma injeção.
            - aos 3 anos, a criança consegue enlaçar um par de episódios.
            - aos 4, a maioria das crianças tem pleno domínio sobre um conjunto de episódios e pode combiná-los em séries e ordená-los de diversos modos, para conseguir efeitos opostos.
            - aos 5, a criança adquiriu já um projeto inicial de conhecimento do domínio literário, e pode então elaborar histórias maiores e mais complexas. É o ‘período picaresco’, como das histórias em que o protagonista embarca em uma série de aventuras, e que a diversão está em seguir essas aventuras, mais que em buscar alguma moral ou conclusão. [como em Rocambole]
- aos 12, 13 anos, o pré-adolescente tem um suficiente domínio dos gêneros literários, que consegue elaborar paródias, desvios deliberados dos gêneros estabelecidos, a fim de provocar uma reação humorística.
- conclusão: “Em cada uma das fases do desenvolvimento literário, portanto, certos aspectos da imaginação passam ao primeiro plano, enquanto outros permanecem latentes” (202)
            → “Assim como a compreensão lógica do mundo que a criança tem, é produto de um processo de construção, também sua capacidade para embarcar em representações e fantasias deve ser construída” (204).
            → “Esse é o caráter construtivo da imaginação literária” (204).

*

1.3. Os estágios da apreciação estética

a. Michael PARSONS (How we understand art: A Cognitive Developmentmental Account of Aesthetic Judgment, 1987) (Universidade de Ohio) [existe uma tradução portuguesa, da Editorial Presença, publicada em 1992, esgotada]

- explica a conduta estética, descrevendo as estruturas ou os esquemas a partir dos quais o conhecimento se organiza, os processos que se realizam ‘na’ mente do indivíduo, num percurso que vai desde a entrada da informação à sua saída (em forma de discurso visual, verbal ou escrito).
- a questão que ele se coloca é se é possível organizar os estágios de desenvolvimento do conhecimento estético de acordo com um critério de complexidade?
- ao contrário de Piaget [e de Gardner], que estabeleceu uma vinculação do desenvolvimento cognitivo com o desenvolvimento cronológico, na temática de apreciação e de julgamento estético, as circunstâncias dos indivíduos (conhecimento-base, estratégias para aprender etc.) parecem ser mais importantes que a idade.
- assim, Parsons detectou 5 estágios na apreciação estética, que refletem outras 5 maneiras de falar sobre as obras de arte:

1. Favoritismo
            - define-se como o da valorização empática, tanto com a forma como com a narrativa da representação. Livre associação.
            - ppp (Perspectiva psicológica piagetiana): corresponde à fase de egocentrismo e não-confrontação com os objetos;
            - pe (Perspectiva estética): não se produz nenhum conhecimento de graus nas obras artísticas.

2. Beleza e realismo
            - define-se como o da identificação do grau de semelhanças (mimesis) entre a representação e a realidade. Relaciona-se com as convenções de uma arte figurativa e associadas a uma habilidade formal do autor.
            - ppp: implica o reconhecimento do ponto de vista dos outros;
            - PE: reconhecimento da habilidade do autor para representar uma esfera da realidade.

3. Expressão
            - define-se em relação à experiência causada no espectador pela expressividade contida na obra de arte. Essa compreensão afeta já uma concepção sobre a finalidade da Arte: expressar a experiência de alguém. A beleza torna-se um fato secundário.
            - ppp: habilidade de compreender os sentimentos do outro
            - PE: produz-se uma desvalorização das categorias tradicionais aplicadas à representação, pois considera como pouco relevantes a beleza dos sujeitos, o realismo dos estilos. O que importa é a “experiência emocional” que as obras produzem.

4. Estilo e forma
            - o que se destaca é que o significado da obra artística é mais social que individual. Produz-se uma identificação dos traços estilísticos classificados pela história da arte. Há um diálogo com a tradição
            - ppp: implica uma dialética interdiscursiva de diferentes enfoques interpretativos;
            - PE: reconhecimento das características generalizáveis e diacrônicas em torno da obra de arte, distinguindo esse reconhecimento do sujeito e de seu mundo pessoal e concreto.

5. Autonomia
            - o indivíduo valoriza de maneira argumentada as construções de significado das diferentes tradições do mundo da arte. Esse valor muda com a história e continuamente é submetido a reajustes para incorporar novas proposições derivadas da interpretação histórica.
            - ppp: implica a integração racional da valorização pessoal com valorizações sociais diferentes da própria, elaborando uma estratégia argumentativa diante delas;
            - PE: vincula-se às propostas de uma Estética da Recepção, na medida em que produz um discurso criativo sobre a obra artística, podendo-se chegar a produzir uma inovação interpretativa.

- cada um desses estágios tem maior complexidade que o anterior, e reflete portanto uma evolução, que vai desde a dependência em relação ao que se aprecia em uma obra, até a autonomia interpretativa em relação a ela.

  b. A. HOUSEN (MOMA School Program, 1992. Estudo destinado ao departamento de serviço educativo do MOMA de Nova York) (HOUSEN, Abigaill – O olhar do observador: Investigação, teoria e prática; trad. de Maria Emília Castel-Branco. In FRÓIS, João Pedro (Coord.) – Educação estética e artística: abordagens transdisciplinares. Lisboa: Fundação Calouste de Gulbenkian, 2000.)
            - nesse caso, os estágios fazem referência ao tipo de construção de sentido, ou de atribuição de significado de cada sujeito, num trajeto que vai desde a narrativa baseada em preferências individuais, até a atividade reconstrutiva.
            - em cada estágio, o observador reage de forma diferente a uma obra de arte.
- Por exemplo, “… enquanto um observador principiante falará sobre o que o quadro lhe faz lembrar, um observador um pouco mais experiente debaterá como o quadro foi feito

1. Narrativo.
            - a base de suas avaliações é o que conhece e gosta. As emoções estão presentes em sua narrativa.

2. Construtivo.
            - as emoções começam a ser colocadas em segundo plano e o sujeito começa a tomar distância da obra de arte para começar a desenvolver o interesse pelas intenções do artista.

2/3. Transição
- Inicia-se um trabalho analítico a partir da classificação de aspectos da obra de arte. Pode ser de tipo histórico (nomes ou escolas de arte).

2/4. Transição
            - o sujeito inventa suas próprias distinções, mas não tem um quadro de referência estética no qual situe a sua análise; ou
            - tem um bom conhecimento técnico e formal, mas carece de estratégias críticas e analíticas.

3. Classificação.
            - o sujeito adota uma estratégia analítica e crítica que encontra ressonância entre os historiadores da arte. Quer identificar a obra em relação a uma escola, um lugar, uma época.
            - assume que o significado da obra de arte pode ser explicado e racionalizado.

4. Interpretativo.
            - busca um encontro pessoal com a obra de arte. Explorando uma pintura, busca seu significado e aprecia as sutilezas da linha, da forma, da cor.
            - sabem que a identidade e o valor da obra de arte estão sujeitos a mudanças e que estas procedem de cada novo encontro com a obra.

5. Recriativo.
            - esse espectador tem uma longa história de conhecimento e reflexão sobre a obra de arte. Para ele, a obra é como ‘um velho amigo’ a quem se conhece intimamente, mas, ao mesmo tempo, é cheio de surpresas.
            - conhece a ecologia da obra: tempo, história, questionamentos.
            - traça uma história própria, na qual combina o pessoal e o universal.

c. Richard PRAWAT
            - trata de compreender as funções mentais a partir da forma como a mente se relaciona com a informação e em como, mediante processos de interação social (influência de Vigostski), a informação vai transformando-se em conhecimento pessoal.
            - o nível de compreensão sobre a arte de um indivíduo é o lento resultado de sua interação com o domínio artístico e o desenvolvimento cognitivo e social.
            - diferentemente das visões cognitivistas de Parsons e Housen, que dão ênfase ao produto final, à assimilação da informação de maneira eficaz, a proposta de PRAWAT ressalta a importância do processo de acomodação do conhecimento à situação proposta.

[- essa valorização do processo encontra ressonância em outros autores:
- como a diferença entre “ação cultural” e “fabricação cultural”, de Teixeira Coelho (O que é ação cultural)
- Cecília de Almeida Salles chega a citar MARX, para quem não seria só o resultado, mas todo o caminho para se chegar a ele que também é parte da verdade (p.25).]

sexta-feira, 24 de junho de 2011

rpg no blog

projeto aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão da UFAL: http://www.4shared.com/document/kLsXQmXa/projeto_proinart.html

precisa-se de voluntários!!!

ataque hacker (chinga la migra )

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                        \ ==== \          \\~~\\     \  PIGS \\   #lulzsec
                        `| === |           ))~~\\     ```"""=,))  #fuckfbifriday
                         | === |           |'---')                #chingalamigra
                        / ==== /           `====='
                       ┬┤------┬┤
                       
Presents...

##################### CHINGA LA MIGRA BULLETIN #1 6/23/2011 ####################

We are releasing hundreds of private intelligence bulletins, training manuals, 
personal email correspondence, names, phone numbers, addresses and passwords 
belonging to Arizona law enforcement. We are targeting AZDPS specifically 
because we are against SB1070 and the racial profiling anti-immigrant police 
state that is Arizona. 

The documents classified as "law enforcement sensitive", "not for public 
distribution", and "for official use only" are primarily related to border 
patrol and counter-terrorism operations and describe the use of informants to 
infiltrate various gangs, cartels, motorcycle clubs, Nazi groups, and protest 
movements.

Every week we plan on releasing more classified documents and embarassing 
personal details of military and law enforcement in an effort not just to reveal 
their racist and corrupt nature but to purposefully sabotage their efforts to 
terrorize communities fighting an unjust "war on drugs". 

Hackers of the world are uniting and taking direct action against our common 
oppressors - the government, corporations, police, and militaries of the world. 
See you again real soon! ;D

################################################################################
 
(download torrent Chinga La Migra) 

ataque hacker (blog)

Um dos mais importantes programas do Ministério do Esporte, o Bolsa Atleta, está sob suspeita depois da invasão de hackers aos computadores do órgão, nesta quinta-feira, quando foram acessadas fichas de atletas beneficiados.
Ficha de um dos contemplados pelo programa e exemplo de dados sigilosos abertos pelos hackers, no Blog do José Cruz.

ataque hacker (uol)

O vídeo divulgado pelo grupo de hackers denominado LulzSecBrazil, exibe uma mensagem que incita os usuários de internet a participarem dos ataques a sites ligados ao governo brasileiro.
O mesmo grupo assumiu, por meio de sua página, a autoria dos ataques aos sites da Presidência da República e do Ministério dos Esportes.
Na tarde desta quinta-feira, em um chat frequentado por simpatizantes do grupo, muitos usuários conversavam sobre ataques ao site do Senado, que ficou fora do ar por alguns minutos durante o dia.
O Serpro (Serviço de Processamento de Dados), que hospeda os sites do governo federal, classificou o ataque como o maior já enfrentado pelas páginas eletrônicas. Segundo o Serpro, não houve vazamento de informações.
SAIBA MAIS
O grupo de hackers LulzSec (Lulz Security) chamou a atenção mundial pela primeira vez há dois meses, com a invasão da rede on-line do PlayStation, da Sony, e o vazamento dos dados de milhões de usuários. O game, de alcance global, passou dias fora do ar.
Na semana passada, o grupo assumiu um ataque ao site da CIA. Anteontem, o FBI invadiu e confiscou equipamentos de um servidor de internet no Estado de Virgínia, parte de uma investigação dos membros do LulzSec realizada junto com a própria CIA e agências europeias, segundo o "New York Times". Um membro do LulzSec foi preso no Reino Unido.
O nome Lulz vem de LOL ("laugh out loud", rir alto), uma gíria de internet usada, em geral, após brincadeiras on-line e pegadinhas.
Anterior e mais conhecido, o grupo Anonymous nasceu como coletivo hacker há cerca de três anos.
A exemplo do LulzSec, começou com brincadeiras on-line, até realizar uma série de ataques em defesa do WikiLeaks, em dezembro do ano passado.
Conseguiu afetar a operação de sites globais como Visa, MasterCard e PayPal, por terem suspendido contas da organização de Julian Assange, que expôs segredos americanos. 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

cine-rock, 25-06


O documentário (de 1973) acompanha Hendrix no palco e nos bastidores, traz imagens de shows clássicos e entrevistas com amigos e músicos, felizes em relatar suas impressões sobre o guitarrista mais espetacular de todos os tempos. Depoimentos de Pete Townshend, Mick Jagger, Eric Clapton, Little Richard, Lou Reed, Buddy Miles entre outros. Um documento histórico.

Sábado, 25/06/11, 18:30, no Cine Triunfo, centro de Arapiraca.

terça-feira, 21 de junho de 2011

grandes momentos da filosofia (freud)


S. Freud: Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás da conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar à vida; movendo-se num círculo, seria ainda a mesma. Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro. Pelo que me toca, estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.

George Sylvester Viereck: Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.

S. Freud: É possível que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer. Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição. Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer. No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante. Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da "febre chamada viver", anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.
(trecho da entrevista "O Valor da Vida", concedida por Freud aos 70 anos. Tradução de Paulo Cesar Souza)

sábado, 18 de junho de 2011

eleições na ufal, em alagoas e no brasil (chaui)

"As eleições, articuladas à ideia de rotatividade dos governantes, perdem seu caráter simbólico (isto é, de revelação periódica da origem do poder, pois durante o período eleitoral o lugar do poder achando-se vazio revela-se como não pertencendo a ninguém mas espalhado pela sociedade soberana), para reduzir-se à rotina de substituição de governos (permanecendo o poder sempre ocupado). Enfim, a democracia liberal reforça a ideia de cidadania como direito à representação, de modo a fazer da democracia um fenômeno exclusivamente político, ocultando a possibilidade de encará-la como social e histórica. A ideia de representação recobre a de participação, reduzindo-a ao instante periódico do voto. A liberdade se reduz à de voz (opinião) e voto, e a igualdade, ao direito de ter a lei em seu favor e de possuir representantes." (CHAUI, Marilena. Ventos do Progresso: A Universidade Administrada. In: PRADO JR., Bento (et al.). Descaminhos da Educação Pós-68. SP: Brasiliense, 1980, p.55 (Cadernos de Debate 8))

domingo, 12 de junho de 2011

sobre o presídio ao lado da ufal (foucault)

“A prisão é a imagem da sociedade e a imagem invertida da sociedade, imagem transformada em ameaça. A prisão emite dois discursos. Ela diz: ‘Eis o que é a sociedade; vocês não podem me criticar na medida em que eu faço unicamente aquilo que lhes fazem diariamente na fábrica, na escola etc. Eu sou, pois, inocente; eu sou apenas a expressão de um consenso social’. É isso que se encontra na teoria da penalidade ou da criminologia; a prisão não é uma ruptura com o que se passa todos os dias. Mas ao mesmo tempo a prisão emite um outro discurso: ‘A melhor prova de que vocês não estão na prisão é que eu existo como instituição particular, separada das outras, destinada apenas àqueles que cometeram uma falta contra a lei’.
“Assim, a prisão ao mesmo tempo se inocenta de ser prisão pelo fato de se assemelhar a todo o resto, e inocenta todas as outras instituições de serem prisões, já que ela se apresenta como sendo válida unicamente para aqueles que cometeram uma falta. É justamente esta ambiguidade na posição da prisão que me parece explicar seu incrível sucesso, seu caráter quase evidente, a facilidade com que ela foi aceita, quando, desde o momento em que apareceu, desde o momento em que se desenvolveram em que se desenvolveram as grandes prisões penais, de 1817 a 1830, todo mundo conhecia tanto seu inconveniente quanto seu caráter funesto e perigoso.”
(FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. RJ: NAU Editora, 2003 pp.123s.  Conferências de Michel Foucault na PUC-Rio em maio de 1975)

sábado, 11 de junho de 2011

cine-rock, 11/06

cine-rock, hoje, 11/06, 18:30, no cine triunfo: 'the acid house', roteiro de Irvine Welsh (de 'Trainspotting')

quinta-feira, 9 de junho de 2011

09/06/11

um dia muito triste hoje pra mim. e não só pela vitória de eurico.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

fora téo!

Acusado de doar ovelhas para obter benefícios eleitorais durante a campanha para reeleição em 2010, o governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), afirmou que o programa “Alagoas Mais Ovinos” empresta, mas não doa animais. Segundo ele, famílias de produtores rurais foram beneficiadas com o projeto em 2010, sob condição de devolver um animal ao Estado. Ele falou que o Estado pretende ampliar o programa nos próximos meses. (mais)

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o engraçado é que ele acabou de ser reeleito...

itinerancia proinart

domingo, 5 de junho de 2011

cine-rock de terça, 07-11

palmeira - 11:00 da manhã
campus arapiraca - à tarde

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Nelson Freire (João Moreira Salles, 2003)

Nelson Freire: uma investigação sobre o recato e o pudor

O documentário de João Moreira Salles, Nelson Freire, acompanha a trajetória do virtuose mineiro, entre viagens e retratos cotidianos, ao longo de dois anos. Seu filme, estruturado em 31 episódios autônomos entre si, constitui um ensaio sobre “um dos segredos mais bem guardados do mundo do piano”. Sobre o pianista e sua relação com o instrumento, sobre a música e o silêncio como meios de comunicação.
O filme de Salles, assim como 32 curtas sobre Glenn Gould de Fraçois Girard, opta pela estrutura episódica, fragmentando a narrativa e possibilitando explorar com maior genuinidade o universo particular do personagem (não edificado no campo verbal). A abordagem, tendo em vista a timidez e o recato de Freire, permite captar pequenos momentos, registrar vislumbres e mesmo deflagrar a convivência estabelecida entre músico e realizador.
É notável, em vários aspectos, a influência do ser e do interagir de Freire na composição fílmica. A começar pela estratégia do diretor que, para captar a essência e não a alteridade do menino prodígio, instaurou uma relação de aproximação gradativa. A princípio distante, para que o aparato cinematográfico não apresentasse motivo de inibição e acanhamento por parte do pianista. Mais tarde, íntimo e conivente devido ao processo de estreitamento da câmera com o “objeto” de representação, sutilmente construindo um entendimento internalizado entre ambos e, numa leitura secundária, entre o espectador. No episódio intitulado “TV”, por exemplo, enquanto Nelson é entrevistado por um jornalista francês que pede para que ele repita determinada frase com “um sotaque mais brasileiro”, ele troca olhares cúmplices com a câmera do documentário. Olhares que comentam sua posição em relação ao pedido e, conseqüentemente, evidenciam uma vivência comum e anterior. Da mesma forma, é essencial capitular que a entrevista que percorre todo o filme apenas foi realizada no último dia de filmagem. (http://www.ufscar.br/rua/site/?p=53)
 

fada verde



sucessão reitoria ufal

Link para o vídeo do protesto dos alunos da UFAL - Maceió, sobre a falta de estrutura dos cursos da Área de Artes, na capital. Em Arapiraca, nem podemos ter essa discussão, já que a Universidade Federal de Alagoas desconsidera em absoluto o valor da Arte para nós, interioranos: http://gazetaweb.globo.com/v2/videos/video.php?c=10917.

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Reproduzo, também, trecho de e-mail enviado por mim ao grupo de professores, em apoio à candidatura da profa. Valéria e da Chapa 1 à sucessão da atual reitoria:

"Sofri vendo a tecla preta do piano, quebrada, e os estudantes de Música sem condições de trabalho. Sofri mais porque meu irmão é afinador de pianos (http://afinacaodepianos.blogspot.com/), realizando ótimo trabalho na região Sudeste, e meu pai é professor titular aposentado de Piano da UNICAMP (http://www.myspace.com/fernandolopespianista), além do restante de minha família estar ligado também às Artes e à Música, em particular.
Por que nós não podemos ter essa Cultura aqui no Nordeste?? Se não é a UFAL que pode possibilitá-la, quem poderá???"

vamos legalizar a maracutaia! oba!

"Legalista leitor, legal leitora, está para ser aprovada pelo Senado a Lei de Incentivo ao Esporte. É uma péssima lei. Uma lei que vai concentrar renda e que facilitará a corrupção.
A coisa vai funcionar, ou não funcionar, assim: as empresas poderão aplicar até 4% de seu Imposto de Renda [IR] devido (e as pessoas físicas, 6%) em esporte. Ou seja, se uma grande empresa vai pagar 100 milhões de IR, poderá pegar R$ 4 milhões e aplicar num projeto esportivo devidamente cadastrado para receber a bufunfa. Parece bom, mas não é. Pelo contrário. De cara, há um problema ético: teremos empresas privadas gerenciando dinheiro público. É como se o leitor decidisse que parte do imposto que ele paga fosse usado para asfaltar sua própria rua.
            Não é essa a idéia do IR. A idéia é fazer uma redistribuição, e essa redistribuição é um trabalho do governo. Para isso é que ele existe. A lei também vai favorecer o apadrinhamento e a corrupção. Por exemplo, um corrupto gerente de marketing pode propor a um clube o seguinte: "Eu dou R$ 1 milhão para o seu clube, mas você me devolve metade e cobre a diferença com umas notas frias".
Ou então a empresa pode beneficiar entidades que estejam envolvidas com amigos, e assim um sensível empresário poderá dizer: "Vou dar este dinheiro para a equipe de equitação do Armandinho, assim eles poderão importar alfafa da Ucrânia. É muito mais fofinha". Em tese, o dinheiro de nossos tributos deveria obedecer a uma meritocracia, ou a uma escala de necessidades. Mas vai acabar obedecendo ao cunhadismo, ao nepotismo, ao filhismo. Mais valerá ser amigo de infância de um dono de empresa do que ter um trabalho sólido no esporte.
E não me venha dizer que as empresas privadas terão interesse em expor sua marca da melhor maneira possível e blablablá. Papo furado! O dinheiro do marketing e da publicidade é outro. Este é um perdão fiscal, e a maneira de ele se tornar mais rentável é ir direto para o bolso de alguém. Há também o problema da concentração de renda. Pense bem, leitor, fosse você dono de uma empresa, onde iria gastar os seus 4%? Num grande time de futebol ou numa escolinha de ginástica olímpica da periferia? Talvez a madre Teresa de Calcutá gastasse na escolinha, mas o resto da humanidade...
E, pior que isso, a proposta de lei não faz clara distinção entre doação e publicidade. Ou seja, o governo estará pagando a publicidade de muitas empresas por aí. No cinema brasileiro, é utilizada uma lei muito parecida, a Lei do Audiovisual. E também não deu certo.
O que aconteceu lá, além de várias suspeitas de corrupção, foi uma brutal centralização dos recursos pela GloboFilmes. E essa é uma conseqüência óbvia, afinal, se eu fosse investidor, também ia preferir vincular minha empresa a um filme que está vinculado a uma poderosa rede de TV, e não a cineastas independentes. Ou seja, no final das contas, leis como essa servem para dar dinheiro a quem já tem, e não para apoiar projetos de base.
O melhor seria que esses impostos fossem para um fundo, e então comissões especializadas decidiriam para onde ele iria. Aí, sim, teríamos uma meritocracia. Lula (em quem, confesso, votei) bateu o tempo todo em Alckmin por conta da privatização peessedebista, mas vai começar seu novo mandato privatizando as suas obrigações, que são definir prioridades e dizer para onde vai ou não o dinheiro dos impostos.
O governo pode não privatizar empresas, mas privatiza seu próprio dinheiro e terceiriza seu trabalho. Lamentável." (José Roberto Torero. Folha de São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 2006)

mídia e educação

 
“A mídia é uma organização relativamente recente no âmbito do modo de produção capitalista. A universidade é uma instituição com o dobro de idade do capitalismo. São, portanto, incomensuráveis. E, na medida em que a primeira produz valor de troca para o mercado, e a segunda, um valor de uso livre como o conhecimento, são além do mais incompatíveis. Os meios de comunicação de massa são um ramo da indústria cultural e, nessa condição, produzem artigos de consumo ideológicos com vista à reprodução ampliada do capital investido, baseada, por sua vez, na exploração econômica do trabalho assalariado. [...] Uma universidade produz pensamento de modo organizado — por isso é uma instituição que forma pela verificação mútua de um aprendizado comum. E, assim sendo, está na contramão do conformismo social de que a mídia carece — e intensifica — para melhor escoar sua mercadoria, que passa por informação, embora seja apenas uma versão a mais de um mesmo estado de coisas inamovível. A universidade, ao contrário, é por definição crítica e visa a transformação social. Não só incomensuráveis e incompatíveis, mas acima de tudo, antagônicas.”
(Paulo Arantes, professor de filosofia da USP, em entrevista à revista Caros Amigos, ano VIII, n. 87, junho 2004, p.27)
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          “No Brasil, a concepção dominante acerca da excelência ou ‘qualidade’ da educação é quase sempre vinculada às possibilidades de êxito nos exames vestibulares. Assim, uma ‘educação de qualidade’ é aquela cujos efeitos representam a possibilidade de ascensão ou permanência num restrito grupo de indivíduos privilegiados econômica e socialmente. Daí porque acreditamos poder ‘medir’ a qualidade da educação a partir de testes que verificam o domínio – ou a ausência – de informações ou ‘competências’ necessárias ao êxito do individuo ‘na vida’, leia-se ‘no mercado’. Não se trata, pois, de uma formação para a liberdade da vida da polis, mas para o êxito econômico privativo do indivíduo, ou, numa versão eufemística, para seu bem-estar pessoal. Não é surpreendente, pois, que grande parte dos discursos acerca de uma ‘educação libertadora’ passou, progressivamente, a se referir à ‘liberdade individual do educando’, à importância do atendimento de seus interesses e necessidades por meio da renovação dos métodos de ensino, dando um tom técnico-pedagógico ao que era um ideal ético-político.”
(José Sérgio de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da USP, em entrevista à revista Caros Amigos, ano 8, n. 90, setembro 2004, p.39)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

cine-rock, 4/6

de volta ao cine triunfo, com 'Up in Smoke' (1978), às 19:00 em ponto.
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como o aparelho de dvd não executou mais o pendrive a partir de um certo ponto do filme (logo após cheech and chong terem se conhecido), foi exibido o filme 'Next Movie', o segundo da dupla, em solidariedade ao movimento pela liberdade de expressão que tem sido reprimido covardemente pela força bruta em várias grandes cidades do brasil.

terça-feira, 31 de maio de 2011

sucessão reitoria ufal

promessas de campanha de Paulo Vanderlei (http://www.maceioagora.com.br/blogs/paulovanderlei, publicado em 29/05).

na 18: 'onde em 2010' - erro básico de português
na 19: espero que vença a eleição, para todos poderem ter cadeiras acolchoadas
na 20: quais cursos? quando? onde??

segunda-feira, 30 de maio de 2011

gramática portuguesa pelo método confuso

Língua é um músculo chato, muito móvel, com uma ponta presa e outra solta. E aí é que está precisamente o grande mal da humanidade; se a língua tivesse as pontas presas, quantos males se não evitariam, no gênero humano?
(Mendes Fradique, Gramática portuguesa pelo método confuso, 1927)

A gramática pode ser:
HISTÓRICA – é aquela que acompanha a evolução da língua desde o embrião até o fumeiro. Esta gramática é divertidíssima, e tem a vantagem de ser absolutamente inofensiva porque ninguém a sabe: os que a julgam saber são em tão pequeno número que não chegam a perturbar a ordem pública ou mesmo a privada.
DESCRITIVA – é a gramática que expõe os fatos da língua atual: pão, pão, queijo, queijo. Esta gramática é supinamente soporífica.
COMPARATIVA – a gramática comparativa é a que estuda a analogia entre as diversas línguas, e após esse fastidioso estudo acaba ficando na mesma.

FONOLOGIA – é a parte da gramática que se encarrega do estudo dos sons.
O som não se propaga no vácuo. E é pena que se não possa viver no vácuo; a quanta imbecilidade se poupariam os ouvidos da gente!
A velocidade do som varia segundo a natureza do meio que o propaga. O som de maior velocidade de propagação é incontestavelmente o boato.

A letra B tem o som de b em quase todos os casos em que se emprega. Ás vezes, porém, não tem som algum, mormente quando vem junto a outro b. Ex.: sabbado. Nesta palavra só se pronuncia o segundo b; o primeiro é mudo.(1) Em alguns casos com a letra b pode desaparecer do vocábulo. Ex.: abacaxi ou ananaz, abóbora ou gerimum, barulho ou ruído. Em outros casos o b pode mesmo não existir nem ter jamais existido. Ex.: canário, ratoeira, alçapão, manivela, resedá, Alemanha, Sintaxe, marmelada, Campos Salles, omelete, rapadura, alpercata, Antigamente. E muitas outras palavras que não se escrevem com b.

O Aumentativo se forma com a terminação inho. Ex.: moinho – mó grande; fossinho – fossa grande (nasal)”
“o Diminutivo se forma com a terminação ão. Ex.: cartão – carta pequena; cordão – corda fininha; pontilhão – ponte pequena; limão – lima pequena (e azeda)”,
“o Adjetivo é a palavra que exprime uma QUALIDADE ou ESTADO.  Ex.: bom, Maranhão”

A letra F é, fonologicamente, um P furado, um P com escapamento. Ex.: Pneu. Se lhe der um furo, faz F F F F F F F F.

R é a pior conselheira das letras do alfabeto; uma letra sensata chamar-se-ia antes: não erre.

T é a única letra do alfabeto que tem o som de T.

Z é um N deitado; provavelmente está repousando; deixemo-lo repousar.

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(1) - como o livro da 'Gramática' é facsímile (1984) da primeira edição de 1928, a grafia antiga do português escrevia a letra 'b' duplicada, em algumas palavras, como 'sabbado'.