novo blog

domingo, 5 de junho de 2011

mídia e educação

 
“A mídia é uma organização relativamente recente no âmbito do modo de produção capitalista. A universidade é uma instituição com o dobro de idade do capitalismo. São, portanto, incomensuráveis. E, na medida em que a primeira produz valor de troca para o mercado, e a segunda, um valor de uso livre como o conhecimento, são além do mais incompatíveis. Os meios de comunicação de massa são um ramo da indústria cultural e, nessa condição, produzem artigos de consumo ideológicos com vista à reprodução ampliada do capital investido, baseada, por sua vez, na exploração econômica do trabalho assalariado. [...] Uma universidade produz pensamento de modo organizado — por isso é uma instituição que forma pela verificação mútua de um aprendizado comum. E, assim sendo, está na contramão do conformismo social de que a mídia carece — e intensifica — para melhor escoar sua mercadoria, que passa por informação, embora seja apenas uma versão a mais de um mesmo estado de coisas inamovível. A universidade, ao contrário, é por definição crítica e visa a transformação social. Não só incomensuráveis e incompatíveis, mas acima de tudo, antagônicas.”
(Paulo Arantes, professor de filosofia da USP, em entrevista à revista Caros Amigos, ano VIII, n. 87, junho 2004, p.27)
*
          “No Brasil, a concepção dominante acerca da excelência ou ‘qualidade’ da educação é quase sempre vinculada às possibilidades de êxito nos exames vestibulares. Assim, uma ‘educação de qualidade’ é aquela cujos efeitos representam a possibilidade de ascensão ou permanência num restrito grupo de indivíduos privilegiados econômica e socialmente. Daí porque acreditamos poder ‘medir’ a qualidade da educação a partir de testes que verificam o domínio – ou a ausência – de informações ou ‘competências’ necessárias ao êxito do individuo ‘na vida’, leia-se ‘no mercado’. Não se trata, pois, de uma formação para a liberdade da vida da polis, mas para o êxito econômico privativo do indivíduo, ou, numa versão eufemística, para seu bem-estar pessoal. Não é surpreendente, pois, que grande parte dos discursos acerca de uma ‘educação libertadora’ passou, progressivamente, a se referir à ‘liberdade individual do educando’, à importância do atendimento de seus interesses e necessidades por meio da renovação dos métodos de ensino, dando um tom técnico-pedagógico ao que era um ideal ético-político.”
(José Sérgio de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da USP, em entrevista à revista Caros Amigos, ano 8, n. 90, setembro 2004, p.39)