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sábado, 26 de fevereiro de 2011

carnaval

“O discurso intelectual sobre o Carnaval que conseguimos produzir e difundir nas últimas três décadas parece que ficou preso na armadilha romântica que ele próprio montou: um mix aparentemente tranqüilo de Nietzsche com Rousseau, que o idealiza como festival genesíaco, causador e integrador da grande ‘communitas’ nacional pela fusão das alegrias individuais na alegria geral, pela inversão simbólica das hierarquias, pela superação das distâncias e opacidades na transparência e imediação do regozijo mútuo, pela transgressão geral das convenções (esta, o desregramento como regra, me parece a grande convenção carnavalesca a não perder vigência com a redução da comunhão geral em show de narcisismo).

“O discurso acadêmico dominante tende a ser de exaltação dessa ‘festa total’ como expressão máxima e revigorante das profundezas mais autênticas de nossa potente originalidade cultural, que não dispensa a exteriorização desavergonhada de si num permanente estado de ereção jovial enquanto dura a duração de um Carnaval.” (Antônio Flávio Pierucci, “A Invenção do Carnaval”. Folha de São Paulo, 26 de fevereiro de 2006)