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domingo, 3 de abril de 2011

introdução do blog

“Nós temos”, assim diz o guia ilustrado de Paris do ano de 1852, [oferecendo] uma visão completa da cidade, do Sena e seus arrabaldes, “repetidamente pensado nas arcadas como bulevares interiores, assim como os que se abrem através deles. Estas passagens, uma nova descoberta do luxo industrial, são corredores cobertos de vidro, calçados em mármore ao longo de blocos inteiros de edifícios, cujos donos se juntaram para engajar-se nessa aventura. Ao longo de ambos os lados desta calçada, que recebem sua luz de cima, estão as mais elegantes lojas de mercadorias, para que tal arcada seja uma cidade, um mundo e miniatura.”

Walter Benjamin comenta: ‘Esta citação é o locus classicus para a representação das arcadas [Passagen]’, que emprestou o nome ao seu mais ousado projeto intelectual. O Passagen-Werk [Trabalho das Passagens] seria uma ‘filosofia materialista da história’, construído com a ‘maior concretude’, como passagens das quais o próprio material histórico, resíduos anacrônicos daqueles edifícios do século XIX, tecnologias e mercadorias que foram precursoras e sua própria era. Como proto-fenônemos da modernidade, eles ofereceriam o material necessário para uma interpretação das mais recentes configurações da história.

As Passagens de Paris, construídas no início do século XIX, eram a origem da arcada, ou seja, da moderna galeria comercial. Certamente os mais remotos centros comerciais originários pareceriam locais lamentavelmente mundanos para inspiração filosófica. Mas era precisamente a intenção de Benjamin fazer a ponte entre a experiência cotidiana e as preocupações acadêmicas tradicionais, para alcançar, na realidade, aquela hermenêutica do sujeito profano que Heidegger somente pretendia.

O objetivo de Benjamin era levar tão a sério o materialismo que os próprios fenômenos históricos chegariam a falar. O projeto era testar o “quão ‘concreto’ se pode estar em conexão com a história da filosofia”. Espartilhos, espanadores de penas, pentes verdes e vermelhos, velhas fotografias, réplicas de suvenir da Vênus de Milo, botões de gola para camisas há muito descartadas, estes históricos e danificados sobreviventes da alvorada da cultura industrial, que aparecem reunidos nas moribundas Passagens ou Arcadas, como ‘um mundo de afinidades secretas’ eram as idéias filosóficas, como uma constelação de referentes históricos concretos. Mais ainda, como ‘dinamite político’ tais produtos datados da cultura de massa ofereceriam uma educação marxista-revolucionária para os sujeitos históricos da geração do próprio Benjamin, então vítimas recentes dos efeitos mais soporíferos da cultura de massa. ‘Nunca’, escreveu Benjamin a Gershom Scholem nos estágios iniciais do projeto ‘escrevi com tanto risco de fracasso’. ‘Ninguém poderá dizer que facilitei as coisas para mim’.

O ‘projeto’ das Passagens (como Benjamin se referia mais comumente ao Passagen-Werk) foi originalmente concebido como um ensaio de cinqüenta páginas. Mas ‘a cara cada vez mais desconcertante quanto mais intrusiva’ do projeto, que ‘uivando como uma pequena besta em minhas noites quando eu não a tenha deixado beber das fontes mais remotas durante o dia’, não abandonava seu autor tão facilmente. Para trazê-lo à luz do dia – e ‘para além de toda uma proximidade ostensiva com o movimento surrealista que podia ser fatal para mim’ – Benjamin continua a ampliar seu perímetro e aprofundar suas bases, tanto espacial como temporalmente. Em última instância, toda Paris para ele convergia, das alturas da Torre Eiffel ao mundo subterrâneo das catacumbas e metrôs, e sua pesquisa durava mais do que um século nos detalhes mais minuciosos da cidade.

Benjamin começou o Passagen-Werk em 1927. Não obstante as interrupções, ele trabalhou intensamente sobre o projeto durante treze anos. Ainda estava inacabado em 1940, quando, na tentativa fracassada de fuga para a França, Benjamin se suicida. Mas, das cinqüenta páginas originalmente planejadas para o ensaio, houve uma ampliação do conjunto do material que, quando publicado pela primeira vez em 1982, tinha mais de mil páginas. Elas consistem, na sua maioria, em fragmentos de dados históricos, respingados de fontes do século XIX e XX, que Benjamin encontrou na Staatsbibliotek de Berlim e na Bibliotéque Nationale de Paris, por ele organizadas cronologicamente em trinta e seis arquivos, ou Konvoluts, cada um encabeçado por uma palavra ou frase-chave. Esses fragmentos, embutidos ao comentário de Benjamin, compreendem mais de 900 páginas. Estão organizados tematicamente de maneira flexível. Para decifrar o seu significado, precisamos nos apoiar em uma série de notas (1927-1929; 1934-1935) que nos proporcionam evidência inestimável, ainda que insuficiente, quanto à concepção geral que dirigia a pesquisa de Benjamin, assim como aos dois ‘exposés’ do projeto das Passagens (1935 e 1939) que descrevem brevemente os conteúdos dos capítulos planejados.

(BUCK-MORSS, Susan. Dialética do Olhar: Walter Benjamin e o projeto das Passagens. Tradução de Ana Luiza Andrade. Revisão técnica de David Lopes da Silva. Belo Horizonte: Editora UFMG; Chapecé-SC: Editora Universitária Argos, 2002, pp.25-28)

vii fórum regional da ages













VII Fórum Regional da AGES, com o tema "Sustentabilidade: um desafio de todos", entre 10 e 12 de abril, em Paripiranga - BA. O evento contará com palestra de Leonardo Boff, entre outros.
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Blog Filosofando na Copa, transformado rudimentarmente em PDF:

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