novo blog

sábado, 30 de abril de 2011

cine-rock em sp

http://www.myspace.com/fernandolopespianista
(site mantido por meu irmão, sobre nosso pai, que contém gravação do primeiro movimento do Concerto de Lizst, que será tocado hoje e amanhã em sp, na íntegra)

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A Arte do Piano
Concerto da Orquestra do Theatro São Pedro com a presença do pianista Fernando Lopes. Programa:M. Glinka – Russlan e Ludmila (Ouverture)/ F. Liszt – Concerto para Piano e orquestra nº 1 Allegro maestoso. Tempo giusto/ Quase Adágio/ Allegretto vivace/ A.Dvorak – Sinfonia nº 9 (Do novo mundo)/ Adagio. Allegro molto/ Largo/ Molto vivace/ Allegro com fuoco.
Regente: Roberto Duarte. Solista: Fernando Lopes (piano).
Estreia dia 30 de Abril (sábado)
Até 1 de Maio, sábado, às 20h30; domingo, às 17h
Theatro São Pedro (636 lugares)
Rua Barra Funda, 171 (Metrô Marechal Deodoro) (Barra Funda) 
Tel: (11) 3667-0499
Ar-condicionado; 06 lugares para deficientes físicos na platéia (sendo 3 p/ acompanhantes); Acessibilidade para pessoas com necessidades especiais
Preço na Bilheteria: R$ 20,00
http://www.sampaonline.com.br/cultura/espetaculo.php?id=22994


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"Outro fundamental documento que o Estúdio Eldorado oferece aos que se interessam pela música contemporânea brasileira é o album-triplo "Cartas Celestes", de José Antonio Resende de Almeida Prado (Santos, 8/2/1943). Compositor, pianista e regente, Almeida Prado está entre os autores que vem vem procurando renovar a música brasileira, com obras de grande impacto e novas propostas – e obtendo um merecido prestígio internacional. Há nove anos, recebeu a encomenda de criar a encomenda de criar a música para um espetáculo no Planetário do Ibirapuera em São Paulo. Compôs então então, uma obra rara piano solo, utilizando o livro "Atlas Celeste" de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão como um guia seguro para esta viagem fantástica através do Cosmos. Passaram-se sete anos e em 1981, reencontrando o "Atlas Celeste", teve a idéia de dar continuidade a esta obra inspirada no Cosmos. Trabalhando seguramente, com base cm leituras de obras de astronomia e buscando dar urna interpretação sonora no Universo, desenvolveu seis volumes, com temas em que não existem pausas ou interrupções entre os vários movimentos integrantes de cada um. Uma obra difícil, pessoal e extremamente significativa, que não poderia ficar sem um registro. Assim, graças ao apoio da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Campinas, há exatamente um ano, os seis volumes das "Cartas Celestes" Foram gravadas pelo pianista Fernando Lopes, num Baldwin, modelo SD-l0, cm sessões realizadas no município de Louveira, Estado de São Paulo. O Estúdio Eldorado editou esta obra num belíssimo álbum, com ilustrações de Fulvia Gonçalves e em formato de capa aspiral, idealizada por Elifas Andreato e que havia sido usado pela primeira vez, há 3 anos, no elepê de Fátima Quedes. Não se trata, obviamente, de um álbum com música de fácil consumo, más a quem aprecia a obra pianística não pode deixar de ouvir esta proposta de Almeida Prado, na execução de Fernando Lopes, um virtuose do piano infelizmente ainda pouco reconhecido no Brasil." (trecho de artigo de Aramis Millarch, originalmente publicado em 1983)
http://www.millarch.org/artigo/classicos-ii

cine-rock 6

meus heróis não morreram de overdose





claro! porque ele já se regenerou e prometeu que não vai roubar mais!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

buzz


Revista Exame, 03 de novembro de 2006

No mundo da publicidade, o termo buzz marketing é usado para definir estratégias arrojadas (e um tanto quanto subversivas) de promoção de um produto ou marca. A idéia é criar situações de impacto que chamem a atenção pública e sejam propagadas por um gigantesco boca-a-boca -- daí o nome buzz, que poderia ser traduzido como "bochicho". Até recentemente, a estratégia vinha sendo utilizada timidamente por empresas e publicitários brasileiros, situação que começa a mudar. Há três semanas, a atriz e modelo Karina Bacchi e o antigo garoto-propaganda da cerveja Kaiser, o espanhol José Valien, foram fotografados em circunstâncias que sugeriam um romance entre eles -- tomavam cerveja juntos e trocavam beijos na despedida. As fotos saíram numa revista de celebridades, e a história ganhou fôlego na internet e em outras publicações. Na semana passada, a Kaiser divulgou seu novo filme, estrelado por -- surpresa! -- Karina e Valien. A mexicana Femsa, dona da marca, não fala sobre o assunto, e a agência da empresa, a Fischer America, diz que não tem nada a ver com o possível romance dos dois -- seu papel teria se limitado a criar apenas um anúncio de oportunidade com a súbita exposição do casal. "A questão nesse caso nem é se o romance é oficial ou não. O fato é que está todo mundo falando do Baixinho da Kaiser, e isso é uma forma de ressuscitar a marca, que andava bem sumida", diz Gustavo Fortes, diretor de planejamento e criação da Espalhe, agência especializada em ações de marketing alternativo.
                Em meio à selvagem competição pela preferência do consumidor, aparecer e destacar-se em meio à concorrência tornou-se imperativo para marcas e produtos. É nesse ponto que o buzz marketing ganha relevância, pois, baseado numa estratégia que combina propaganda convencional com tititi, a campanha ganha a dimensão de notícia. Às vésperas do Grande Prêmio Brasil, em São Paulo, a empresa de bebidas Red Bull deu uma tacada de mestre nesse sentido. Patrocinadora de uma equipe de Fórmula 1, a Red Bull convocou seu piloto reserva, o alemão Michael Ammermuller, para se exibir com um dos carros de corrida no centro da cidade, num circuito de 7 quilômetros que ia do Teatro Municipal ao parque do Ibirapuera. Apesar de ter acontecido às 5 e meia da manhã de uma quinta feira chuvosa e durado apenas 3 minutos, a performance foi documentada por várias câmeras estrategicamente instaladas -- uma delas em um helicóptero -- e por um batalhão de fotógrafos. As fotos do carro com a logomarca da empresa correndo nas ruas de São Paulo -- situação nunca vista antes -- foram publicadas em todos os grandes jornais. O filme da performance, providencialmente arquivado no site YouTube, foi visto por mais de 300 000 internautas. É um resultado que jamais seria atingido caso a empresa se valesse apenas do desempenho de sua equipe nas pistas para aparecer. No GP Brasil, o melhor resultado obtido por seu principal piloto, o holandês Robert Doornbos, foi um obscuro 12º lugar. O outro, o inglês David Coulthard, nem sequer terminou a prova. "As empresas aprenderam a explorar ferramentas como o YouTube e já produzem seu material especificamente para a divulgação no site", diz Sérgio Mugnaini, diretor de criação de internet da agência AlmapBBDO.
                Uma foto de Gisele Bündchen com um notebook da Apple nos bastidores de um desfile ganhou os blogs americanos e alimentou boatos de que ela seria a nova garota-propaganda da marca — o que nunca foi confirmado nem desmentido. Já o filme feito para promover um game da Atari mostrava o Air Force One sendo pichado. O vídeo assustou o FBI e virou sucesso do site YouTube.
                O buzz marketing surgiu nos Estados Unidos há seis anos como alternativa ao marketing e à publicidade tradicionais. O  objetivo inicial era fugir dos custos dos comerciais de TV e ao mesmo tempo atingir públicos qualificados. Os pioneiros do buzz marketing procuravam repetir a trajetória extraordinária do filme “A Bruxa de Blair”, uma produção quase amadora que custou 35 000 dólares e arrecadou uma soma dez vezes maior nas bilheterias. O principal trunfo dos criadores do filme foi divulgar a história em um site de internet como se fosse real -- as imagens seriam tudo o que restou de uma expedição que investigava a lenda de uma bruxa em uma floresta. Uma das primeiras grandes corporações a aderir ao buzz marketing foi a Ford, em 2000. Ao lançar o modelo Focus no mercado americano, a empresa identificou 120 jovens formadores de opinião e com potencial para influenciar o comportamento de outros jovens e deu a cada um deles um automóvel. O trabalho dos jovens restringia-se a exibir o carro o máximo possível. O resultado foi medido em números: 286 000 Focus foram vendidos apenas com esse tipo de ação, e o modelo chegou a superar em vendas o Honda Civic, seu maior concorrente.
                Ao mesmo tempo que é uma estratégia poderosa, o buzz marketing implica riscos. Na semana passada, a rede de supermercados Wal-Mart se viu numa situação constrangedora envolvendo uma dupla de blogueiros que percorria os Estados Unidos a bordo de um trailer. Jornalistas respeitados com colaborações em jornais de grande porte, como o The Washington Post, os blogueiros pernoitavam nos estacionamentos da rede e registravam suas aventuras numa espécie de diário na internet. Em meio às histórias contadas pela dupla, os internautas começaram a estranhar o tom elogioso aos supermercados, principalmente quando se tratava de entrevistas com funcionários -- um ponto crítico na imagem pública da rede, acusada de explorar seus trabalhadores. A verdade veio à tona quando se descobriu que ambos eram pagos pela agência de relações públicas do Wal-Mart. A epopéia no trailer foi abortada e o dono da empresa de relações públicas, Richard Edelman, foi obrigado a pedir desculpas pelo erro e assumir toda a responsabilidade pelo incidente. "Fazer buzz marketing não é coisa simples", diz Ricardo Al Makul, responsável pela área de internet e mídia alternativa da agência de publicidade paulista Lew'Lara. " O consumidor pode se revoltar ao perceber que é parte de uma armação e passar a boicotar a marca ou o produto."

assassinato da formiguinha (hit do youtube)

linda lição quase budista de humanidade e respeito aos animais, vinda de um bebê.

por outro lado, logo alguém vai tentar convencê-lo de q a formiguinha não morreu, q ela foi pro céu e virou uma cegonha, pra trazer os bebês para o mundo. o bebê vai parar de chorar e se conformar com o destino da formiguinha. e vai continuar sendo um bebê, aceitando qualquer ideia absurda q o poupe do sofrimento da perda e da frustração, pra sempre.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

sombras de arte

Obra de 'shadow art': o metal retorcido, devidamente iluminado pelo ângulo correto, projeta uma sombra impossível de adivinhar vendo apenas o objeto sem seu complemento fantasmático: a palavra 'liberdade', em inglês. Mais 20 exemplos de 'shadow art'.

castro alves


A) “Era então um bello rapaz, de porte esbelto, tez pallida, grandes olhos vivos, negra e basta cabelleira, voz possante e harmoniosa, irreprehensivelmente vestido de preto, dons e maneiras que impressionavam á multidão, impondo-se á admiraçâo dos homem e ás mulheres inspirando os mais ternos sentimentos.”
(PEIXOTO, Afrânio. Castro Alves: o poeta e o poema (1922).

B) “Cada poeta romântico tem uma fisionomia mais ou menos convencional, composta pelo nosso espírito com farrapos da sua vida, poemas, aparência física. A de Castro Alves ressalta imediatamente como o bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. Talvez por sentir tanta obscuridade em torno de si – cativeiro, ignorância, opressão – a sua poesia faz um consumo desusado de luz; e esta luminosidade o envolve num halo perene [...].
“Na própria visão que temos dele sobressai, pois, de início, o contraste das trevas espancadas pela luz, para destacar a sua máscula energia de poeta humanitário.”
(CANDIDO, Antonio. “Poesia e Oratória em Castro Alves”. In: _______. Formação da Literatura Brasileira, II, p.241).



C) “[Castro Alves] desenvolveu, nas academias de Direito, nos teatros, nas praças públicas e em alguns salões do Recife e de São Paulo, uma desabrida campanha a favor dos novos ideais políticos do republicanismo, dos novos ideais de liberdade do espírito e da palavra, e mais veementemente e insistentemente, porque o momento pedia, em favor dos ideais da abolição da escravatura.
“Dos livros Os escravos e A Cachoeira de Paulo Afonso, se bem tenha o segundo, tão logo publicado em 1876, grande popularidade (compreensível, pelo que tinha e de fácil entendimento), não há dúvida de que o primeiro, publicado mais tarde (1883) é o melhor.”
(AMORA, Antonio Soares. O Romantismo, p.190.)

D) “Mário de Andrade conclui criticando Castro Alves por ‘jamais’ erguer ‘os escravos até sua altura’, mas por se abaixar ‘até seus irmãos inferiores [sic]’.”
(ANDRADE, Mário de. “Aspectos da Literatura Brasileira” (1939), pp. 109-123. Apud MAESTRI, Mario. A Segunda Morte de Castro Alves: genealogia crítica de um revisionismo. Passo Fundo-RS: UPF, 2000. p.67.)

E) “Em março de 1941, em plena guerra mundial, dois anos após a crítica de Mário de Andrade, Jorge Amado, que apenas publicara seus primeiros romances de sucesso, escrevia um ABC de Castro Alves. [...] arremete com vigor contra o estudo de Mário de Andrade, que define como modelo ‘perfeito’ de ‘incompreensão’, no qual o autor [MA] quase chega a ‘odiar o poeta social’; [...].
“O escritor baiano não se propôs a fazer historiografia, nem mesmo biografia. Nas páginas introdutórias deixa claro que se permitiu ‘liberdades’ na ‘biografia’ do filho dileto da Bahia, a quem ‘louvara’. Despreocupado com o método historiográfico, declara irreverentemente: ‘Que se danem os historiadores!’ Jorge Amado alerta nas páginas de abertura de seu ABC de Castro Alves que ‘sua verdadeira bibliografia’ foram ‘as poesias’ do poeta.”
(AMADO, Jorge. ABC do Castro Alves (1941). Apud MAESTRI, Mario. Op.cit., p.71)

F) “Em 1953, Jamil Almansur Haddad, polemizando com aqueles que propunham que praticamente tudo havia sido dito sobre Castro Alves, publicou uma alentada trilogia sobre o poeta: Revisão de Castro Alves. [...]
“Apenas um exemplo [de “propostas contraditórias, despropositadas e paradoxais” que o “magnífico trabalho” de Haddad lança]: ao utilizar-se do axioma da ‘ortodoxia psicanalítica’, no qual ‘ninguém se acidenta’, Jamil Haddad propõe que a fatalidade das matas do Braz [o tiro no pé] tratara-se de um suicídio inconsciente, o que nos obrigaria a ajuntar às exóticas razões últimas do suicídio avançadas pelo autor – ‘castro Alves suicidava-se porque tarado, suicidava-se porque psicótico’- a constatação da péssima pontaria do poeta.”
(HADDAD, Jamil Almansur. Revisão de Castro Alves (1953). Apud MAESTRI, Mario. Op.cit., p.87)


G) “Alencar ainda pudera fundir índio e português a golpes de folhetim ou no embalo de sua prosa lírica. Mas negro e branco riscavam-se em um xadrez de oposições sem matizes. [...]
“Aquele vago sentimento de dissonância entre as figurações da América e da Liberdade, que já se advertia nos Timbiras de Gonçalves Dias, assume em Castro Alves e nos seus imitadores um espaço amplo de sentido e a dignidade do tema.
“Um primeiro sintoma de mudança percebe-se no tratamento que a nova poesia dá às descrições da natureza americana; esta perde a condição de morada idílica do selvagem para tornar-se pano de fundo de cenas que a mancham. [...] ‘Ao romper d’alva’, ‘América’ e o quadro da floresta pujante que abre A Cachoeira de Paulo Afonso são poemas trabalhados no registro da contradição, pois dissociam francamente o mundo natural, visto como edênico, e o inferno social que a cupidez dos escravistas nele instaurou.”
(BOSI, Alfredo. “Sob o Signo de Cam”. In: _______. Dialética da Colonização, pp.246-247)

H) “A idealização, agindo no terreno lírico, permitiu impor o escravo à sensibilidade burguesa, não como espoliado ou mártir; mas o que é mais difícil, como ser igual aos demais no amor, no pranto, na maternidade, na cólera, na ternura. Esta mesma idealização que já havia dado um penacho medievalesco ao bugre, conseguiu impor a dignidade humana do negro graças à poetização da sua vida afetiva. Castro Alves se tornou o poeta por excelência do escravo ao lhe dar, não só um brado de revolta, mas uma atmosfera de dignidade lírica, em que os seus sentimentos podiam encontrar amparo; ao garantir à sua dor, ao seu amor, a categoria reservada aos do branco, ou do índio literário. O idílio trágico de Lucas e Maria [de A Cachoeira de Paulo Afonso], da parte do leitor, ruptura mais funda de preconceitos que o lamento das “Vozes d’África”.
            “Por estes motivos, talvez A Cachoeira de Paulo Afonso seja o ponto central, o eixo da sua obra, enroupando o tema social do escravo na mais belo tratamento lírico, apesar de defeitos e irregularidades.”
(CANDIDO, Antonio. “Poesia e Oratória em Castro Alves”. In: _______. A Formação da Literatura Brasileira, II, p.249)
 
  I) “A Cachoeira de Paulo Afonso, de Castro Alves, é o lugar de passagem do tópico da mulata faceira, num jogo sedutor romântico, para o tópico da sedução, enquanto agressividade explícita. A violência implícita e esmaecida na linguagem dos pomas anteriores agora é desnudada, na denúncia de Castro Alves. O poeta está exibindo o sadismo do conquistador convertido em violador. O sadismo, conforme Freud, é um exercício da pulsão de dominação. Aqui, a dominação erótica mistura-se à econômica e à social na sociedade escravocrata. [...] O indivíduo pratica um ato canibal e, no caso, oral-sádico.
“Se o corpo do escravo [Lucas] é espoliado, o ventre da escrava [Maria] é explorado, não apenas como o lugar do desejo erótico, mas também como o espaço onde se consubstancia o poder econômico. Caberia lembrar [...] Jacob Gorender, para quem a espoliação do corpo escravo estava sempre vinculada ao sexo.”
(SANT’ANNA, Afonso Romano de. “Castro Alves e a denúncia do social através do sexual”. In: “A mulher de cor e o canibalismo erótico na sociedade escravocrata”. In: _______. O Canibalismo Amoroso: o desejo e a interdição em nossa cultura através da poesia, pp. 44-50.)

J) “[Em A Cachoeira de Paulo Afonso] desloca-se o problema central, que é o da relação de trabalho, de senhorio e escravidão, para uma questão de relações amorosas, sem que na violação destas se tenha propriamente uma representação daquela, menos ainda a de uma perspectiva rebelde. O secundário é tornado principal, para que o principal não apareça. [...]
            “Enquanto o negro trabalhava e apanhava e era vilipendiado pelo branco, não era irmão; de repente, quando o negro pode sair dessa condição, para passar a exigir reparos e direitos, ele se torna irmão, mas só para não reclamar nada.”
(KOTHE, Flávio. O Cânone Imperial. Brasília: Editora da UnB, 2000, p.390)

núpcia virtual

ou seja, não haverá transmissão da noite de núpcias.

biblioteca pessoal

meu 4shared

quarta-feira, 27 de abril de 2011

platão, críton


Sócrates- Logo, meu excelente amigo, não é absolutamente com o que dirá de nós a multidão que nos devemos preocupar, mas com o que dirá a autoridade em matéria de justiça e injustiça, a única, a Verdade em si. Assim sendo, para começar, não apontas o bom caminho quando nos prescreves que nos inquietemos com o pensamento da multidão a respeito do justo, do belo, do bem e de seus contrários. A multidão, no entanto, dirá alguém, é bem capaz de nos matar. 
Críton- Isso é claro, Sócrates, haverá quem diga. 
Sócrates- Decerto. Mas, meu admirável amigo, essa razão que acabamos de rever ainda me parece substancialmente a mesma de antes. Examina também se continua de pé para nós este outro princípio: que não devemos dar máxima importância ao viver, mas ao viver bem. 
Críton- Continua. 
Sócrates- E que viver bem, viver com honra e viver conforme a justiça é tudo um, continua de pé, ou não? 
Critão- Continua.
Sócrates- Por conseguinte, partindo desses princípios nos quais concordamos, devemos averiguar se é justo que eu tente sair daqui [da prisão, onde terá de morrer no dia seguinte] sem permissão dos atenienses, ou injusto: se se provar que é justo, tentemos; se não, desistamos. As considerações que aduzes, de dispêndio de dinheiro, reputação, criação de filhos, Críton, cuidado não sejam na realidade especulação, próprias de quem, com a mesma facilidade, mataria, e se pudesse, ressuscitaria, sem nenhum critério a saber, a multidão. Nós, porém, pois que assim recide a razão, não sujeitemos à consideração nada além do que há pouco dizíamos: se será procedimento justo dar dinheiro aos que me vão tirar daqui, suborná-los, nós mesmos promovendo a fuga e fugindo, ou se, na verdade, procederemos com injustiça em todos esses atos. Se se provar que cometeremos injustiça, não será absolutamente mister indagar se devo morrer, ficando quieto aqui, ou sofrer qualquer outra pena, antes do que praticar uma injustiça. 
Críton - Acho que falas com acerto, Sócrates; vê, pois, o que devemos fazer. 
Sócrates- Vejamo-lo juntos, meu caro, e se puderes de algum modo refutar-me, refuta-me e te obedecerei; Se não, cessa desde logo, meu boníssimo amigo, de insistir no mesmo assunto, de que preciso sair daqui contrariando os atenienses; porque dou muita importância a proceder com o teu assentimento e não mau grado teu. Vê, pois, se te parecem satisfatórios os argumentos básicos deste exame e procura responder a minhas perguntas com a maior sinceridade. 
Criíton - Pois não, procurarei. 
Sócrates- Asseveramos que não se deve cometer injustiça voluntária em caso nenhum, ou que em alguns casos se deve, e noutros não? Ou que de modo algum é bom nem honroso cometê-la, como tantas vezes no passado conviemos? E é o que acabamos de repetir. Porventura, todas aquelas nossas convenções de antes se entornaram nestes poucos dias e, durante tanto tempo, Críton, velhos como somos, em nossos graves entretenimentos não nos demos conta de que nada diferíamos das crianças? Ou, sem dúvida alguma é como dizíamos, quer o admita a multidão, quer não? Mais: ainda que tenhamos de experimentar momentos quer ainda mais
dolorosos, quer mais suaves, o procedimento injusto, em qualquer hipóteses, não é sempre, para quem o tem, um mal e uma vergonha? Afirmamos isso ou não? 
Críton- Afirmamos. 
Sócrates- Logo, jamais se deve proceder contra a justiça. 
Críton - Jamais, por certo. 
Sócrates- Nem mesmo retribuir a injustiça com a injustiça, como pensa a multidão, pois o procedimento injusto é sempre inadmissível. 
Críton- Parece que não. 
Sócrates- E daí? Devemos praticar maldades ou não, Críton?
Críton - Não devemos, sem dúvida, Sócrates. 
Sócrates- Adiante. Retribuir o mal que nos fazem é justo, como diz a multidão, ou injusto? 
Críton - Absolutamente injusto. 
Sócrates- Sim, porque entre fazer mal a uma pessoa e cometer uma injustiça, não há diferença nenhuma. 
Críton - Dizes a verdade. 
Sócrates- Em suma, não devemos retribuir a injustiça, nem fazer mal a pessoa alguma, seja qual for o mal que ela nos cause.

renan calheiros

Renan Calheiros, do pmdb, aparece na propaganda gratuita do partido, no intervalo da novela das 7 da globo, dizendo que foi ele quem fez (ou algo assim) a interiorização da universidade federal de alagoas, onde trabalho, em arapiraca. Foi mostrado o nosso campus, muitos alunos caminhando, conversando alegres, ou estudando na biblioteca e pesquisando nos laboratórios. Creio ter reconhecido um colega dando aula, à frente da turma, numa cena rápida.


Eu não gostaria de ter uma aula filmada para se tornar propaganda política do Renan Calheiros e do PMDB na televisão. Certamente entraria com um processo contra o uso indevido da imagem, embora não saberia o que fazer se fosse a propaganda da Dilma.

fhc do dem

26/04/2011 - 20h23
FHC admite possibilidade de fusão entre PSDB e DEM 

acabou a diferença entre o seis e o meia-dúzia, ou entre a merda e a bosta, como queiram.

terça-feira, 26 de abril de 2011

titãs - cabeça dinossauro (1986)

  1. "Cabeça Dinossauro" (Arnaldo Antunes, Branco Mello, Paulo Miklos) – 2:20
  2. "AA UU" (Marcelo Fromer, Sérgio Britto) – 3:01
  3. "Igreja" (Nando Reis) – 2:48
  4. "Polícia" (Tony Bellotto) – 2:06
  5. "Estado Violência" (Charles Gavin) – 3:10
  6. "A Face do Destruidor" (Arnaldo Antunes, Paulo Miklos) – 0:34
  7. "Porrada" (Arnaldo Antunes, Sérgio Britto) – 2:51
  8. "Tô Cansado" (Arnaldo Antunes, Branco Mello) – 2:18
  9. "Bichos Escrotos" (Arnaldo Antunes, Sérgio Britto, Nando Reis) – 3:13
  10. "Família" (Arnaldo Antunes, Tony Bellotto) – 3:32
  11. "Homem Primata" (Ciro Pessoa, Marcelo Fromer, Nando Reis, Sérgio Britto) – 3:27
  12. "Dívidas" (Arnaldo Antunes, Branco Mello) – 3:08
  13. "O Quê" (Arnaldo Antunes) – 5:40
 formação da banda

participações no disco


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"Igreja", no Especial Titãs e Barão Vermelho, com Caetano Veloso, na Globo, em 1988

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http://www.4shared.com/file/aGaZSw_L/Tits_-_Cabea_Dinossauro__1986_.htm
http://www.titas.net/historia/

chico césar

Folha de São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2006

O jabá e a liberdade de comunicação
LOURIVAL J. SANTOS

O JABÁ É UM mal crônico no Brasil e em boa parte do mundo. Os que militam em empresas de radiodifusão, em produtoras de discos ou no mundo artístico sabem da sua existência longeva e não acreditam na possibilidade de extirpá-lo, porém são unânimes quanto aos prejuízos causados por ele.
                Uma clara idéia da questão é dada por João Bernardo Caldeira e Nelson Gobbi: "Além de criar paradas de discos falsas, forçar estéticas a partir de critérios comerciais e não de qualidade, o jabá deixa à margem dos meios de comunicação artistas que não querem (ou não podem) recorrer a esse expediente econômico para divulgar sua obra" ("JB Online", 31 de maio de 2005). Nada mais ofensivo ao culto do respeito à ética, à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, princípios básicos do Estado de Direito.
Apesar da sua nocividade, o jabá manteve-se até agora intocável no país, criticado sem êxito por alguns, porém geralmente admitido como mais uma das muitas espécies locais de deformidade social, diagnosticada como enfermidade incurável, a serviço da detração dos valores fundamentais da sociedade.
Se o jabá desrespeita os critérios éticos fundamentais, seus efeitos são igualmente letais no plano da estética, pois a arte, que é a mais sublime manifestação do espírito criador do homem, por força dessa prática é legada à condição de mera emissora de "commodities", em benefício dos que buscam, ilicitamente, o lucro certo e o enriquecimento sem justa causa.
Além disso, também alimenta a perversa "indústria cultural", combatida por nomes ilustres como Norberto Bobbio, que a definiu como o resultado negativo da massificação dos meios de comunicação: "(...) a arte que deveria ser a coisa mais irrepetível e criativa, torna-se um produto como os outros, reprodutível ao infinito, consumível, uma mercadoria que o público compra ou é induzido a comprar, com a mesma falta de gosto pessoal com que compra um sabonete ou um par de sapatos" ("Igualdade e Liberdade", Ediouro, 2000, pág. 91).
No plano do Direito, a nosso ver, o jabá quadra-se como ato de manifesto desrespeito à liberdade de expressão, consagrada pela Constituição.
Como frisamos em trabalho anterior: "A liberdade, mormente no campo da expressão (considere-se a expressão da atividade artística), assim como o acesso do cidadão à informação, constituem-se regras essenciais do Estado democrático de Direito, pairando acima da competência de quaisquer dos Poderes constituídos (...). Enquanto valor/fruto de conquista política da sociedade não poderá ser limitada, por ser fator limitativo da própria competência do Estado" (Lourival J. Santos - "Correio Braziliense", março de 2000).
As manipulações de informações, os falseamentos de verdade, os impedimentos causados aos intérpretes e autores que, independentemente do valor intelectual de suas obras, poderão ter o acesso ao mercado obliterado pela censura impingida pela pressão do dinheiro, sem dúvida são agressões à liberdade de exercício da atividade intelectual, artística e de comunicação e ao direito do cidadão de ter livre acesso à informação.
Nas empresas de radiodifusão, onde a prática é mais disseminada, há o agravante de serem as concessões para tal serviço bens públicos, "destinados a serem recebidos direta e livremente pelo público em geral".
Como é estabelecido no Código Brasileiro de Telecomunicações e suas normas reguladoras, ao adquirir a concessão, a empresa assume a responsabilidade legal de manter os serviços de informação, divertimento e de publicidade em percentuais legalmente fixados, perfeitamente subordinados às finalidades educativas e culturais, "visando os superiores interesses do país", sob pena de se sujeitar a rigorosas sanções, que variam da aplicação de multa à cassação definitiva da concessão, dependendo da gravidade da infração cometida.
Por isso, concluímos que as empresas envolvidas na prática do jabá expõem-se a grandes riscos, pois a divulgação dolosa de notícia falsa sobre a área musical, a discriminação da manifestação artística a quem não se curve às exigências de suborno, além da malversação de bem público, não podem ser consideradas infrações de pequena gravidade.

LOURIVAL J. SANTOS, 61, sócio de Lourival J. Santos Advogados, diretor jurídico da Associação Nacional dos Editores de Revistas e associado do Instituto dos Advogados de São Paulo.

*
eu não teria citado Bobbio, e sim algo como o ZUIN, Antonio Álvaro Soares. Indústria Cultural e Educação: o novo canto da sereia. Campinas-SP: Autores Associados, 1999 (de inspiração Adorno & Horkheimer, mais à esquerda). além disso, ele só fala quase do problema do jabá nas rádios, e não de uma maneira geral.

mas acredito ser dever do estado cuidar bem da cultura, e não deixá-la simplesmente à mercê do Capital. 
por isso, acho que o Secretário de Cultura da Paraíba, Chico César, pelo menos por estar tentando enfrentá-Lo  de alguma forma, tem razão e merece todo o apoio possível, apesar de eu não gostar muito de forró, sejam seus instrumentos feitos de plástico ou de qualquer outro material.