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quinta-feira, 31 de março de 2011

mapa conceitual

ontem, navegando pela internet, encontrei um site que transforma blogs inteiros em um arquivo pdf, gratuitamente. BlogBlooker. Descobri que este blog tem 350 páginas até agora e, por isso, talvez crie coragem de selecionar algumas coisas e rejeitar outras, para tentar torná-lo um livro de verdade, para professores de filosofia do ensino médio, por exemplo.
mas, se por um lado, isso me faz apressar sua conclusão e seu término (o que é bom! está se esgotando rapidamente o material do meu hd e eu quero fazer outras coisas), por outro lado a seleção e avaliação do material vai dar um puta trabalho, só de olhar o calhamaço na minha frente.

quarta-feira, 30 de março de 2011

amor bandido

"Jussara Gomes, uma catarinense de 60 anos, graduada em História e Geografia, correspondeu-se durante três anos com Francisco de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque. Ele cumpre pena no presídio de Itaí, a 290 quilômetros de São Paulo, acusado de torturar, violentar e matar oito jovens, entre 1997 e 1998. Casaram-se por procuração em 2005. Encontram-se só no parlatório, já que Francisco não tem autorização para receber visitas íntimas. Esses encontros, no entanto, não são tão freqüentes como ela gostaria. "Eu pedi para ela não vir. Acho que há outras coisas a serem priorizadas, como minhas causas jurídicas", explicou Francisco em entrevista ao jornal Diário de S.Paulo em 2005.

Sobre Jussara, sabe-se apenas que ela conheceu o Maníaco do Parque quando, já na condição de criminoso, ele ganhou as manchetes dos jornais e da TV. Sua dedicação a um assassino serial, no entanto, ilustra o que se convencionou chamar de "amor bandido". Pouco se sabe também sobre essa modalidade de paixão, que mobiliza tantas mulheres a percorrerem centenas de quilômetros e a se colocarem enfileiradas durante horas nas portas dos presídios, em troca de alguns momentos ao lado de um homem condenado pela justiça por crimes violentos - muito deles contra mulheres -, mas a quem elas chamam de "meu amor".

No dia 3 de janeiro deste ano, em uma cerimônia simples e sem que os noivos pudessem se tocar, já que estavam separados por um vidro, a estudante de Direito Cynthia Giglioli da Silva, de 30 anos, casou com Marcos Willians Camacho, o Marcola, líder da facção criminosa PCC, de 38. A noiva, parentes, a escrivã e o juiz chegaram às 10 horas ao presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, a bordo de viaturas policiais. O casal namorava havia mais de oito anos e Cynthia esteve presa, em 2005, acusada de ter recebido uma mesada de R$ 15 mil do tesoureiro do PCC. Marcola cumpre pena de 44 anos de prisão por roubo a bancos.

A população carcerária de São Paulo é de 58.056 presos, 82,2% de sexo masculino, a grande maioria entre 18 e 34 anos. De acordo com as estatísticas da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, 56% são casados e 21% recebem visitas íntimas uma vez por semana.

Nos dias de visitas, as mulheres se aglomeram na porta dos presídios espalhados por todo o Estado. "Metade delas não acredita que o objeto da sua paixão tenha cometido o crime a ele atribuído. A outra metade afirma gostar deles mesmo assim", diz Gilmar Rodrigues, roteirista da TV Globo, que entrevistou 40 mulheres, esposas, namoradas ou apenas "pretendentes" de prisioneiros condenados por crimes seriais de estupro ou homicídio. O resultado dessa pesquisa está reunido no livro Amor e Morte - Mulheres dos Jacks, que será publicado em abril. O nome "Jacks" do título remete ao famoso assassino serial inglês, Jack, o Estripador, mas, no caso, refere-se ao "apelido" atribuído a essa modalidade de criminoso nas prisões paulistas.

Rodrigues as encontrou - exaustas de viagem, sentadas no chão, trêmulas de frio e perdidamente apaixonadas - nas filas de espera de presídios e nas portas de delegacias de polícia. A grande maioria trabalhava como doméstica e cabeleireira. Algumas eram estudantes. Dentro da prisão, eram tratadas como "rainhas". Seduziam e eram seduzidas com bilhetes, poemas e juras de amor. "Todas acreditavam que, terminada a pena, iriam constituir ou reconstruir uma família", conta Rodrigues. Inspiram-se em exemplos como o da cantora Simony, que se casou com o rapper Cristian de Souza Augusto, o Afro X, que ganhou liberdade condicional em 2004 e que hoje é pai de seu filho.

Cetro de rainha

Do lado de fora do presídio, levam uma vida solitária, aguardando o dia da visita. Há relatos de mulheres que dizem ser "controladas" pelo namorado desde o presídio, por intermédio de amigos. Resignadas, investem para provar a inocência ou reduzir a pena do homem amado. "Quem tem dinheiro paga advogado. Algumas chegaram a vender o carro", conta Rodrigues.

A disposição para reabilitar o companheiro acusado de homicídio ou de estupro existe mesmo entre as esposas dos que cometeram crimes, estes efetuados já na condição de marido. Algumas identificam a conversão religiosa - comum entre prisioneiros - como um sinal de regeneração. Mas, de acordo com Rodrigues, a grande maioria é convencida pelo discurso do arrependimento. Afirmam que ele, agora, é "outra pessoa", e que o que ele fez foi uma "coisa do mal". "Elas apagam o passado e só se fixam na figura do companheiro, que fala com ela naquele momento". Assim, acreditam que devem lhe dar mais uma chance, que ele vai se regenerar. "A relação de sedução que ele tem com a mulher na prisão se assemelha à que ele deve ter tido com a sua vítima", suspeita Rodrigues.

A maioria das mulheres entrevistadas por Rodrigues acreditava que a reclusão era garantia do amor fiel. Desconhecem que há uma rede de correspondência com presídios femininos ou que podiam perder o cetro de "rainha" para a irmã de um companheiro ou até para uma funcionária do presídio, sublinha Rodrigues. Isso sem falar nas parceiras que podem ser encontradas nos classificados ou nos programas de rádio. Conta-se que o traficante Luiz Rodrigues, o Chacrinha, tinha oito namoradas na extinta Casa de Detenção, antes de morrer durante uma rebelião. A boa disposição e forma física são mantidas por exercícios físicos com equipamentos improvisados, como cabos de vassoura. Da alimentação, eles cuidam como podem. Conta-se que os prisioneiros buscam meios e modos de ter acesso a ovos crus, considerados afrodisíacos, ou amendoim e achocolatados, que têm fama de melhorar o desempenho sexual.

"A situação dessas mulheres é muito triste", conclui Rodrigues. "Vivem uma miséria sentimental enorme e uma falta de perspectiva humilhante. Nas cartas enviadas à prisão, rastejam por um pouco de amor de pessoas da pior espécie. E alimentam o sonho de um dia ser feliz ao seu lado."

A psicologia e a psiquiatria tentam entender o que motiva uma mulher a procurar e manter um amor bandido. Há quem considere que essa modalidade de paixão se alimente do glamour dos criminosos, representado por um poder que desafia as regras e as leis. "Trata-se de homens fortes e corajosos, que não se submetem a nada e criam as próprias regras. Esses atributos estão culturalmente relacionados a uma imagem de masculinidade e virilidade", escreveu a psicanalista Priscila Faria Gaspar. A mulher frágil busca nesse "herói" não só proteção, mas uma fonte de entusiasmo em sua vida, analisou a psiquiatra Beth Valentim no site Bolsa de Mulher. "Normalmente, são mulheres que não têm suas emoções estabilizadas, que precisam também viver no risco, nos desafios, para se sentirem vivas", argumenta. A psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari também entra no debate preferindo considerar que as mulheres que se apaixonam por criminosos "enxergam a pessoa por trás do bandido". Acreditam que a opção pelo crime é resultado de sua história de vida e que, no fundo, são boas pessoas.

Há, ainda, um aspecto de rebeldia nessa paixão: o desejo de transgredir fala alto, geralmente entre adolescentes. "O bandido, dessa forma, exerce um fascínio e se torna objeto de desejo, pois simboliza a ruptura com as leis e os valores transmitidos em casa. Ele também é visto como suposto caminho para a autonomia, o que não é verdade, pois muitas jovens acabam se submetendo a eles e enfrentando uma nova forma de dependência", adverte Priscila.

Mas amor bandido não é coisa só de adolescente. Pode acontecer em qualquer idade. Nesse caso, o encanto está, geralmente, associado à fama do criminoso. Elas acompanham sua trajetória pela mídia e escrevem cartas com o intuito de iniciar um relacionamento amoroso. Esse foi o caso de Jussara, mulher do Maníaco do Parque.

O amor bandido também não se restringe às classes mais baixas. Nos anos 80, a jornalista Marisa Raja Gabaglia (1942-2003) envolveu-se com o cirurgião-plástico Hosmany Ramos, condenado a 21 anos de prisão. Sabe-se também que a filha de um político carioca namorou o traficante Roberto de Moura Lima, conhecido como Meio-Quilo.

A psicóloga forense Maria Adelaide Freitas Caíres analisa o amor bandido sob uma vertente diferente, a de estudos vitimológicos que indicam que "os pares se identificam na multidão". Nessa perspectiva, vítima e agressor, ou, no caso, a mulher e o seu estranho objeto de paixão, têm algo em comum. "A maioria dessas mulheres, assim como os criminosos por quem se apaixonam, provavelmente tiveram uma infância conturbada e violenta, em que a relação de vínculos com os adultos não era provedora o suficiente para que elas pudessem pedir ajuda ou se sentir protegidas", explica.

Essa origem comum forja um tipo de identidade semelhante àquela que aproxima grupos de exclusão. "O criminoso foi uma criança vitimizada que aprendeu a reconhecer os sinais que o agressor emitia para poder se proteger, mas também conheceu o comportamento do agressor. Isso deixa marcas indeléveis no seu desenvolvimento. Pode parecer cruel, mas algumas dessas pessoas, quando adultas, se identificarão com o papel do agressor, e poderão se transformar num criminoso. Outras, identificam-se com o papel das vítimas", afirma Maria Adelaide. Entre elas, na sua opinião, enquadram-se perfeitamente as mulheres que se apaixonam por criminosos.

Na sua avaliação, essa identidade entre excluídos ficou clara no dia do julgamento dos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, condenados a 39 anos de prisão pelo assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen: enquanto a promotoria exibia fotos da cena do crime e dos ferimentos perpetrados às vítimas pelos criminosos, um grupo de jovens mulheres tentava fazer chegar aos réus bilhetes solidários e pedidos de autorização para visitas no presídio. "A explicação racional é que ficaram sensibilizadas, supondo que a vida deles foi muito triste, e que, naquele momento, eles estavam sendo rechaçados pela sociedade", conta Maria Adelaide.

Essa identidade forjada no sofrimento também explicaria, na sua opinião, a vocação quase missionária das mulheres e namoradas de presidiários. "São relações muito dramáticas porque a base da aliança é uma história de violência que se reproduz, de alguma maneira, na vida adulta", observa.

Ela reconhece ainda que essa atração é reforçada pelo glamour que envolve o crime sexual. "O criminoso sexual gera uma comoção social, uma revolta. A sociedade fica inquieta, a mídia divulga, os especialistas comentam. Ela se apaixona pelo glamour que vem do reconhecimento social do criminoso. É flash para tudo quanto é lado", afirma. Ela lembra a repercussão dos crimes do Maníaco do Parque e de Francisco Chagas, acusado de ter matado e mutilado 30 meninos no Maranhão e 12 no Pará. Os crimes aconteceram entre 1991 e 2003. "Ele foi entrevistado até pelo Times, o famoso jornal londrino". O mal, como ela diz, "é cheio de brilhos e paetês".

O amor bandido descreve uma relação eminentemente feminina. Na avaliação de Maria Adelaide, isso ocorre porque a mulher prisioneira - pouco mais de 2% da população carcerária paulista - tem um padrão de crime diferente do masculino. "Esse número cresceu na última década por conta do tráfico de drogas: elas fazem o papel de mulas ou são pegas levando celulares para a penitenciária", diz. Vivem em função do homem. É interessante registrar também que, enquanto 65% da população carcerária masculina recebe visita da esposa ou companheira, apenas 18% das mulheres presidiárias contam com alguma forma de apoio do companheiro ou do marido.

Na avaliação de Maria Adelaide, a única saída para evitar que as mulheres se submetam a essa paixão e reproduzam experiências como essa é a educação pautada pelo afeto, que preserve vínculos, segurança e garantam a socialização.

Site do namoro

Sam Wagner, um artista pop nova-iorquino, trocava cartas com um amigo preso. Depois de algum tempo, esse amigo lhe pediu para que escrevesse também para seus colegas de cela que não tinham mais contato com a família. Aos poucos, o círculo de comunicação foi se ampliando até que Wagner se deu conta de que vinha mantendo correspondência mensal com cerca de 100 detentos. Foi então que, em 2003, ele teve a idéia de criar o site Hot Prison Pals (que traduzido literalmente significa "colegas quentes da prisão"), aberto para homens e mulheres.

Como os presos norte-americanos não têm acesso à internet, o site é, na verdade, uma espécie de vitrine com fotos e endereço de correspondência para quem estiver interessado em trocar cartas com prisioneiros solitários. "As cartas que eles recebem por meio do site são cruciais para o seu bem-estar. Eles precisam saber que alguém do lado de fora liga para eles", diz Jason Rupp, sócio de Wagner e que dirige o empreendimento da sua residência, em Bangcoc, na Tailândia.

Quem estiver interessado num relacionamento mais sério, deve encarar a troca de cartas como um investimento para o futuro. Keith Virgil Dunaway, que no site aparece sem camisa e com uma calça jeans, sai da cadeia ainda esse ano. Mas Randy Sands só ganhará a liberdade em 2023. Algumas amizades podem resultar em visitas e em relacionamentos mais duradouros. Erik Menendez, por exemplo, casou-se na prisão com uma mulher com quem passou anos se correspondendo. Junto com o irmão, Lyle, Erik foi acusado pela morte dos pais, em 1989.

Os presos pagam US$ 19 para divulgar sua foto e um recado no site. Eles não precisam divulgar o crime que motivou a prisão. "Aceitamos todo mundo", diz Rupp. "Às vezes as mensagens ficam um pouco mais fortes e gostamos disso. Nós nos orgulhamos de ter os prisioneiros mais quentes da internet.""

Revista Ciência Criminal, 17/04/07

(Disponível em http://www.mhariolincoln.jor.br/index.php?itemid=2764&catid=116, acessado em 28/02/08)

rosto


salve a foto e vire-a ao contrário

aniversário de paripiranga


pobre paris!!!











(http://ossertoesbahia.blogspot.com/2011/03/aniversario-de-125-anos-de-paripiranga.html)

romano, orlandi e müller

No primeiro semestre, Romano dava uma disciplina sobre Descartes. Ia lendo e comentando o texto das Meditações, e às vezes trazia exemplos, como um livro de arte importado sobre anamorfoses, que deixou emprestado com uma colega da sala, depois de fazer diversas recomendações e advertências sobre como manuseá-lo. Evidentemente não se poderia xerocá-lo, pois era quase que apenas de imagens de anamorfoses na história da arte. Mostrou-nos uma impressionante, para que víssemos enquanto o livro circulava na sala (com as cadeiras e o birô dispostos em um círculo perfeito) do pintor Holbein, do século XVI, que colocou, no centro do quadro, um longo pedaço de pão, que, se visto da forma exata, com os olhos perto da imagem, inclinada uns 45 graus, transformava-se numa caveira. A avaliação da disciplina eram paráfrases do texto das Meditações, que íamos fazendo à medida em que o texto ia sendo lido nas aulas.

Houve uma vez, logo no primeiro semestre, em que ele começou a aula muito alterado, a custo segurando uma onda de ódio que tinha tomado desde que lera um dos trabalhos avaliativos feitos pela classe. Sem revelar nada da pessoa que teria feito tal trabalho, vários de nós, em silêncio durante os comentários de romano, nas rodinhas no intervalo da aula, não tínhamos a menor noção do que tinha acontecido, embora um arrepio de desconfiança em cada um de nós que de que fôssemos nós que, sem querer, tenhamos despertado a fúria do professor. Ficávamos repassando mentalmente trechos do trabalho de cada um de nós, que era uma paráfrase do texto de Descartes. Pelo que deu pra entender, um aluno tinha elogiado as aulas do professor, que eram realmente excelentes!, e o romano achou que o cara estava sendo irônico com ele. Depois do intervalo, um aluno pediu a palavra e disse que tinha escrito aquilo com honestidade, pois estava gostando muito mesmo das aulas do professor, que em momento nenhum sequer passou pela cabeça dele que isso poderia ofender romano, mas o professor manteve sua ira e seu desdém, claramente injustiçando nosso colega (que, aliás, tinha um adesivo do maluf no carro, fato que já havia intrigado todo mundo). Esse cara abandonou o curso, a unicamp e possivelmente a filosofia, depois desse dia.

Em 92 e 93, Romano trabalhou o Tratado-Teológico Político, de Espinosa, um livro nem um pouco óbvio. Se fosse hoje, eu teria gravado as suas belas aulas. Os paralelos com a política brasileira do momento eram constantes e ele sabia mostrar e evidenciar os trechos interessantes do livro de Espinosa.

Luiz Orlandi era certamente o maluco assumido do Departamento. Suas aulas eram meio caóticas, pedia um trabalho de até 10 páginas e, no finzinho do semestre se trancava em sua sala e voltava meia-hora depois, com os resultados da turma toda. Como ele era um dos que não sabia em absoluto o nome de cada aluno, percebemos que ele dava uma olhada no trabalho e atribuía a nota meio que conforme o número de páginas apenas (de 5 a 10). Eu sempre tirava seis. Foi meu primeiro contato com Deleuze, na disciplina em que lemos o Proust e os Signos, cuja sequência ele interrompeu porque ficou chateado com comentários sobre o fato dele ser ‘o deleuziano do departamento’, e nos semestres seguintes trabalhou com o ‘Tratado sobre a Natureza Humana’, de Hume, que não tinha tradução para o português na época (o original em inglês ele conseguiu com o Fausto Castilho).

A aula do professor Marcos Müller era ler o texto de Kant ou, depois, Hegel. Com as traduções que ele fizera, que nos entregava datilografadas em pequenas apostilas para xerocarmos, ou distribuía ele mesmo, na hora da aula, quando era algum parágrafo interessante dA Enciclopédia, de Hegel). No segundo semestre, na avaliação de um curso sobre ‘A Ideia de uma História Universal através de um Ponto de Vista Cosmopolita’, ele nos deu um parágrafo da Crítica do Juízo, de que eu nunca tinha ouvido falar, e hoje percebo a sua beleza, nesse parágrafo determinado; as questões são fracas, burocráticas pra averiguar se sabíamos escrever. Eu passava com por volta de 7,0.

Müller era o único dos professores (da Filosofia e do IFCH inteiro, exceto Lucas) que regularmente ia aos concertos da Orquestra Sinfônica de Campinas. Sempre foi muito cordial, como qualquer brasileiro que se preza. Apesar da ascendência alemã muito forte e de ser marido da bela francesa Jeanne-Marie Gagnebin, professora de Platão, cujas aulas sobre o Amor inebriavam-nos. Mas isso mais tarde, 96, 97. Ela era professora de Letras, e por isso nós, da Filosofia, não podíamos assistir regularmente as suas aulas, só de vez em quando. (lsd)

terça-feira, 29 de março de 2011

diagonais rosas

josé alencar


tradução: prestou um desserviço ao brasil.

raul antelo























































1) meu primeiro trabalho na ufsc, a partir do curso de Raul sobre a 'Ninharia' ('Nadería') em Borges; 2) Avaliação, pelo prof. Raul, recomendando públicação (o que foi feito no Anuário de Literatura 7); transcrição de aula, feita por Rogério Confortim;4) meu seminário, apresentado na disciplina sobre Borges (prof. Raul pediu 'algo mais pedestre'. A notar também o trecho final 'Nietzscheana', de notório mau gosto e que eu havia feito também no final da 'Enciclopédia Jagunça', tendo depois retirado-o a pedidos); 5) comentários do prof. Raul ao trabalho do curso sobre o 'infraleve' de duchamp; 6) trabalho apresentado no doutorado, em disciplina que fiz na unicamp com profs Márcio Selligman-Silva e Paulo Ottoni, sobre Derrida. 7) Arguição do mestrado (no começo de janeiro de 2001) pelo prof. Raul.

segunda-feira, 28 de março de 2011

homero

texto do perseus project, impresso na minha matricial, e trabalhado no grupo de estudos com Lucas e Pardal, em 96.

grandes momentos da filosofia (kant)


avaliação do prof. Marcos Müller, no segundo semestre de curso.

colunas azuis

saramago

Texto de autoria de Maurício Rocha, intitulado "Não Há Escola sem Filosofia", e publicado em 'O Trabalho da Multidão: Império e Resistências' (RJ: Gryphus, 2002)

http://www.4shared.com/file/NOwJuik9/filosofia_na_escola2.html

domingo, 27 de março de 2011

platão, íão

“É o que me disponho a fazer, Íon, para explicar-te (apophainómenos) o que me parece ser a causa do que dizes. O dom de falares com facilidade a respeito de Homero, conforme concluí há pouco, não é efeito de arte (techné), porém resulta de uma força divina que te agita, semelhante (hósper) à força da pedra que Eurípides denomina magnética e que é mais conhecida (hoi polloi) como pedra de Héracles. Porque essa pedra não somente tem o poder de atrair anéis de ferro, como comunica a todos eles a mesma propriedade, deixando-os capazes de atuar como a própria pedra e de atrair outros anéis, a ponto de, por vezes, formar-se uma cadeia longa de anéis e de pedaços de ferro, pendentes uns dos outros; e todos tiram essa força da pedra. Do mesmo modo (houtó), as Musas deixam os homens inspirados (entheous), comunicando-se o entusiasmo destes a outras pessoas, que passam a formar cadeias de inspirados (enthousiazónton). Porque os verdadeiros poetas, os criadores das antigas epopéias (no original, hoi agathoi), não compuseram seus belos poemas como técnicos (ouk ek technes), porém como inspirados e possuídos (katexomenoi), o mesmo acontecendo com os bons poetas líricos. Iguais (hósper) nesse particular aos coribantes, que só dançam quando estão fora do juízo (ouk emphrones), do mesmo modo que os poetas líricos ficam fora de si próprios (ouk emphrones) ao comporem seus poemas; quando saturados de harmonia e de ritmo, mostram-se tomados de furor igual ao das Bacantes (hósper hai bakkhai), que só no estado de embriaguez (katexomenai) característica colhem dos rios leite e mel, deixando de fazê-lo quando recuperam o juízo. O mesmo se dá com a alma do poeta lírico, como eles próprios o relatam. Dizem-nos os poetas, justamente, que é de certas fontes de mel dos jardins e vergéis das Musas que eles nos trazem suas canções, tal como as abelhas, adejando daqui para ali do mesmo modo (houtó) que elas. E só dizem a verdade. Porque o poeta é um ser alado e sagrado (pténon kai hieron), todo leveza, e somente capaz de compor quando saturado de deus e fora do juízo, e no ponto, até, em que perde de todo o senso (ho nous méketi en autó ené). Enquanto não atinge esse estado, qualquer pessoa é incapaz de compor versos ou de vaticinar (poiein kai khrésmódein). Porque não é por meio da arte que dizem tantas e tão belas coisas sobre determinados assuntos, como se dá contigo em relação a Homero. É por inspiração divina, exclusivamente, que cada um faz tão bem o que faz, conforme a Musa o incita: ditirambos, panegíricos, danças corais, epopéias ou iambos, revelando-se todos eles medíocres nos demais gêneros, pois não falam por meio da arte, mas por uma força divina. Se a arte os deixasse em condições de falar bem sobre determinado gênero, do mesmo modo se expressariam com relação aos demais. Essa a razão de utilizar-se apenas deles o deus como ministro, como o faz com os adivinhos e os divinos profetas (tois mantesi tois theiois), para que os ouvintes nos capacitemos de que não são eles os que nos contam tantas coisas miríficas, visto se acharem privados da razão (hois nous mé parestin), mas o próprio deus que conversa conosco por intermédio deles (all’ ho theos autos estin ho legón).”[1]

[tradução do carlos alberto nunes, modificada por mim em 1996, para o projeto de mestrado com o benjamin]

[1] PLATÃO, Íon, 533c9-534d4

assalto

ASSALTO

PERSONAGENS

José Maria Maia - 33 anos, cabelos e olhos escuros, barba bem-aparada, estatura média, corretor de seguros, bem de vida.

Sílvia Maia - 29 anos, cabelos pretos, lisos, na altura da nuca, olhos verdes, pele clara, dona-de-casa, “sempre quieta, sempre alerta”, nas palavras de seu marido Zemaria.

Pedro Maia - três anos mais novo que seu irmão, foi seu rival na disputa por Sílvia. Sua cabeleira negra é vasta e rebelde; seu corpo, atlético. Mulherengo, trocista, sempre acompanhado de um copo e um cigarro. É formado em arquitetura, mas sua paixão é o futebol.

D. Angélica Rebouças - Carioca da Tijuca, mora com a filha Sílvia desde que enviuvou, há um ano e meio. Cabelos brancos, como os olhos, vítimas de catarata. Surda. Não esconde a preferência, entre os irmãos, por Pedro.

Beth Vieira - amiga de infância de Sílvia, não é muito bonita, mas é sexy. Já namorou Pedro. Loura oxigenada, tão falante quanto fútil. Tem muito carinho pela amiga, por quem acredita estar apaixonada.

Maria do Carmo - diarista dos Maia. Mulatinha de 18 anos, muito vaidosa, vive se engraçando com Pedro. Tem uma filha de dois anos que deixa na creche antes de ir para o trabalho.

Esmeralda - empregada do apartamento vizinho, amiga de Maria do Carmo.

Bento e Glória - os assaltantes.

ATO ÚNICO

CENA ÚNICA - Sala do apartamento dos Maia, na Haddock Lobo, São Paulo. Duas e meia da tarde de sábado. Esmeralda está na porta que dá para a cozinha esperando Maria do Carmo acabar de tirar a louça do almoço. No centro, de costas, a televisão está ligada num programa esportivo, com o volume alto. À direita, Zemaria, abraçado a Sílvia, está conversando animadamente com Pedro sobre a final do campeonato, marcada para as quatro. Beth insiste com D. Angélica em levá-la ao cabeleireiro.

Zemaria - Será o jogo da década, talvez do século! Tenho certeza de que vamos nos lembrar desta tarde por muito tempo. Ainda bem que o Carlão foi expulso semana passada...

Pedro - E você acha que ele não vai jogar, que o patrocinador não vai meter o dedinho? Já deve ter metido a mão inteira mesmo...

D. Angélica - Mas minha filha, estou muito velha para isso. De quê adiantaria? Eu não enxergo nada mesmo. Deixe que não demora muito receberei minha última maquiagem...

Beth - (gritando) Não diga isso, D. Angélica! A senhora tem muito tempo pela frente. Ainda verá o homem pisar em Marte, eu garanto. Parece que os americanos já estão construindo um foguete...

Esmeralda - Vamo cum isso minina. Taca logo tudo isso drentro da máquina si não agente chega atrasada!

Maria do Carmo - Tô acabando, tô acabando, calma, a gente já vai. E é bom chegar atrasada pra deixá aqueles bandido esperano, cum fome...

(Ouve-se uma batida seca, mas forte, na porta. Maria do Carmo olha através do olho mágico e abre um pouco a porta.)

Maria do Carmo - Pois não?

Bento - (fora da cena) Por favor, senhorita. Nós somos da Igreja Evangélica Paz e Amor e...

Maria do Carmo - Se veio vender livrinho, pode dar meia-volta. Aqui ninguém compra nada.

Bento (ainda fora de cena) - Posso falar com o dono da casa?

Maria do Carmo - Ele vai te passá um isculacho... Seu Zemaria! Tem um homi aqui querendo falar com o senhor um negócio duma igreja...

Pedro - Deixa que eu vou. Em um minuto haverá mais um ateu no mundo.

( Pedro vai até a porta e ao olhar para fora fica todo contente. Cumprimenta o casal lá fora, convidando-os a entrar.)

(Entram abraçados a Pedro, Glória e Bento, este vestindo a camisa do Juventus.)

Pedro - Aí, aí!! É um presságio, um bom agouro, um milagre! É hoje, é hoje que a gente desencanta! Vou pegar uma cerveja pra vocês.

Bento - Hmmm. Não precisa dizer nada. O senhor é juventino também.

Pedro - Desde o útero, melhor, desde a pica de meu pai, com o perdão das senhoras.

(Maria do Carmo dá dois copos ao casal e Pedro começa a enchê-los.)

Pedro - Mas a quê devemos a graça desta visita? Quem são vocês, campeões?

Glória - O caso é o seguinte: nós não viemos aqui pra falar de futebol, beber cerveja, nem porra nenhuma! A gente veio pra roubar, sacou? Roubar! (Tira um revólver da bolsa e aponta na direção de todos, inclusive de Bento.)

Bento - (Para Glória) Sai pra lá! Aponta isso pra eles! (Para todos) É isso aí! Dane-se o Juventus! O que a gente quer é o dinheiro, tá entendendo, o dinheiro. E vamos logo com isso que tá quase na hora do jogo. (Bebe um gole de cerveja.)

Zemaria - Deve ser brincadeira! Vocês não vieram aqui, com a camisa do meu time, pra me assaltar! Não hoje! Senta aí que o jogo já vai começar.

Beth - Já sei! Vocês são amigos do Pedro e querem tirar uma com a nossa cara. Que piadista...

Glória - Parece que vocês não estão entendendo. (Mostra o revólver) Isso aqui não é de brincadeira, não. Eu passo fogo, tá me entendendo, eu passo fogo! Vocês duas aí! (Aponta para as empregadas) No sofá! E quietinhas, senão mando bala. O senhor aí! (Para Pedro) Onde é o cofre?

Pedro - Desculpem-me. A casa é dele. (Aponta Zemaria)

Glória - Então vai sentando aí se não quer levar chumbo. (Pedro obedece) (Para Zemaria) Então? Eu não vou perguntar de novo...

Beth - (Para Pedro) Cada uma que você me arruma... Quem são?

(Pedro não responde)

Beth - (Insinuando-se para Bento, que bebe mais um gole) De onde vocês conhecem o Pedro? Senta aqui comigo, o jogo já vai começar...

Pedro - Beth, eu nunca vi esses dois...

Bento - Que horas são?

Beth - Vinte pras quatro...

Glória - (Encosta a arma na cabeça de D. Angélica) Vou contar até três. A primeira vai ser a velha. E eu não tô brincando, não. Um, dois...

Zemaria - (reprime um sorriso) Calma! Calma! Não precisa matar ninguém, nem mesmo a velha. Nós não temos cofre, usamos cartão de crédito. Não temos nada, podem procurar.

Sílvia - Olhem! Eu tenho um relógio, podem levar.

Zemaria - Peraí, Sil! Que negócio é esse? Não é porque esse cara torce pro Juventus que...

Bento - (pega o relógio e vê a hora) Será que o Carlão joga?

Zemaria - Se jogar é marmelada, eu quebro tudo! O cara é um assassino!

Glória - Assassina serei eu se vocês continuarem com isso!

Bento - Olha, amor. Por que a gente não deixa o assalto para depois do jogo. A gente assiste aqui com eles, depois assalta e vai embora.

Zemaria - Isso! E com o caneco na mão! (Abraça Bento)

(Glória aponta o revólver para a televisão)

Zemaria e Bento - Nããão!!

Beth - (Aproxima-se de Sílvia e põe-lhe a mão no joelho) Você está com medo? Chega aqui mais perto de mim. (Do outro lado Pedro senta mais perto de Sílvia e também põe a mão em seu joelho)

Sílvia - Parem com isso! (Tira as duas mãos de seus joelhos) Eu não estou com medo! Olhem! O jogo começou.

(Todo mundo se vira para a televisão)

Esmeralda - (Para Maria do Carmo) Que jogo é esse hein? Que assalto mais demorado! (Para Glória) Ô moça! Eu posso ir embora? Eu não tenho nada comigo, não moro aqui, não gosto de futebol...

Maria do Carmo - Eu também. Preciso pegá minha filhinha na creche, meu namorado tá mi esperano. Afinal, já deu minha hora faiz tempo!

Bento - Silêncio!!! Eu quero ver o jogo! E meu copo está vazio.

Maria do Carmo - Eu num vô pegá nada. Já deu minha hora mesmo.

Zemaria - Sil! Vai buscar mais uma cerveja pra gente.

Glória - Não! Ela não. Vai o grandão aí, que é meio bobo. (Pedro se levanta) Mas cuidado, hein! Sem gracinha que eu tô de olho! (Pedro sai e volta com a garrafa. Vai colocar no copo de Glória. Só aí ela percebe que ainda está com o copo cheio na mão.) (Glória atira o copo no chão. Todos se voltam para ela, menos Bento.)

Bento - (Vibrando com a tv.) Vai, vai, vai, vai, droga! Burro! Idiota!

Pedro - (Baixinho.) Desculpe.

Zemaria - Mas como pode o bandido do Marcão estar jogando?

Bento - É uma roubalheira só! Time grande é foda! É uma luta de Davi contra Golias.

(Glória dá um tiro para cima. Pedro derruba o copo. Maria do Carmo começa a rezar.)

D.Angélica - Foi gol?

Sílvia - (Para Glória.) Calma. Você está nervosa demais. Vou pegar um pouco de água. Sente-se aqui no meu lugar...

Glória - (Lamentando-se.) Maldito hospício em que vim cair. (Senta-se. Pedro se afasta o mais possível. Beth se aproxima um pouco, olhando o rosto da ladra.)

Beth - (Para Glória.) É, ela tem razão. Calma que daqui a pouco o jogo acaba e... (Põe a mão no joelho de Glória.)

(Glória olha assustada a mão que acaricia seu joelho. Levanta-se num pulo e, tremendo, vira a arma na direção da cabeça de Beth. Dá, desesperada, um tiro que pega na parede, muito longe.)

D.Angélica - Outro?

(Sílvia dá um copo com água para Glória. Esta bebe num gole só e atira o copo longe.)

Glória - Mas o que eu estou fazendo? Fiquei louca também? Daqui a pouco pergunto quanto está o jogo. (Olha para Bento e Zemaria, ainda em frente da tv, quase interessada. Senta-se de novo no sofá, leva a mão com a arma à cabeça.) Não estou me sentindo muito... (Desmaia em cima de Pedro, que levanta com um grito, jogando Glória no chão. Rapidamente, Sílvia pega o revólver e mira em Bento, chamando-o. Ele demora um pouco para se virar.)

Sílvia - Fora! Carregue essa maluca! Fora os dois! Fora de minha casa!

Bento - Minha Glória! Você matou minha Glória!

Zemaria - Pst!

Bento - (Para Zemaria) Que foi? Aconteceu alguma coisa?

(Glória dá três tiros.)

D.Angélica - He, que é goleada!

(A televisão começa a tocar o hino do Juventus. Zemaria e Bento se abraçam emocionados e cantam junto. Pedro arrisca se aproximar e logo cai na festa também. Beth se ajoelha perto de Glória e passa a mão em seus cabelos. As duas empregadas saem de fininho. Sílvia, com a arma ainda na mão, chora desconsolada no colo de sua mãe.)

[escrevi em 1998, lsd]