novo blog

segunda-feira, 30 de maio de 2011

gramática portuguesa pelo método confuso

Língua é um músculo chato, muito móvel, com uma ponta presa e outra solta. E aí é que está precisamente o grande mal da humanidade; se a língua tivesse as pontas presas, quantos males se não evitariam, no gênero humano?
(Mendes Fradique, Gramática portuguesa pelo método confuso, 1927)

A gramática pode ser:
HISTÓRICA – é aquela que acompanha a evolução da língua desde o embrião até o fumeiro. Esta gramática é divertidíssima, e tem a vantagem de ser absolutamente inofensiva porque ninguém a sabe: os que a julgam saber são em tão pequeno número que não chegam a perturbar a ordem pública ou mesmo a privada.
DESCRITIVA – é a gramática que expõe os fatos da língua atual: pão, pão, queijo, queijo. Esta gramática é supinamente soporífica.
COMPARATIVA – a gramática comparativa é a que estuda a analogia entre as diversas línguas, e após esse fastidioso estudo acaba ficando na mesma.

FONOLOGIA – é a parte da gramática que se encarrega do estudo dos sons.
O som não se propaga no vácuo. E é pena que se não possa viver no vácuo; a quanta imbecilidade se poupariam os ouvidos da gente!
A velocidade do som varia segundo a natureza do meio que o propaga. O som de maior velocidade de propagação é incontestavelmente o boato.

A letra B tem o som de b em quase todos os casos em que se emprega. Ás vezes, porém, não tem som algum, mormente quando vem junto a outro b. Ex.: sabbado. Nesta palavra só se pronuncia o segundo b; o primeiro é mudo.(1) Em alguns casos com a letra b pode desaparecer do vocábulo. Ex.: abacaxi ou ananaz, abóbora ou gerimum, barulho ou ruído. Em outros casos o b pode mesmo não existir nem ter jamais existido. Ex.: canário, ratoeira, alçapão, manivela, resedá, Alemanha, Sintaxe, marmelada, Campos Salles, omelete, rapadura, alpercata, Antigamente. E muitas outras palavras que não se escrevem com b.

O Aumentativo se forma com a terminação inho. Ex.: moinho – mó grande; fossinho – fossa grande (nasal)”
“o Diminutivo se forma com a terminação ão. Ex.: cartão – carta pequena; cordão – corda fininha; pontilhão – ponte pequena; limão – lima pequena (e azeda)”,
“o Adjetivo é a palavra que exprime uma QUALIDADE ou ESTADO.  Ex.: bom, Maranhão”

A letra F é, fonologicamente, um P furado, um P com escapamento. Ex.: Pneu. Se lhe der um furo, faz F F F F F F F F.

R é a pior conselheira das letras do alfabeto; uma letra sensata chamar-se-ia antes: não erre.

T é a única letra do alfabeto que tem o som de T.

Z é um N deitado; provavelmente está repousando; deixemo-lo repousar.

-

(1) - como o livro da 'Gramática' é facsímile (1984) da primeira edição de 1928, a grafia antiga do português escrevia a letra 'b' duplicada, em algumas palavras, como 'sabbado'.

tunga


como perturbar o familiar para ativar a função política da arte:
      
        1) Cem Terra: 100 office-boys ocupando um quarteirão de uma avenida. Os Office-boys, que são invisíveis  aos olhos dos habituais da avenida, ganham uma existência na paisagem, agora não mais passível de ser ignorada: o espectador/transeunte é obrigado a vê-los.

            2) Tereza: um grupo de sem-teto usa cobertores para fazer tranças, como as que os presidiários fazem para fugir da prisão. Os sem-teto utilizam-nas para fugir do museu ou da galeria de arte onde a instauração se faz.

            3) Parceria entre A quietude da terra e o Projeto Axé: (2000 - Salvador BA - A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé, no MAM/BA) abertura da exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia. No museu, Tunga coloca dentro de tambores vários utensílios artesanais feitos de folha-de-flandres, que imitam os de alumínio fabricados industrialmente, recriando à sua maneira, no dia-a-dia das casas mais humildes, um certo cenário das casas mais ricas. São funis, raladores, assadeiras, lamparinas etc.
            Os garotos do Projeto Axé estarão reunidos numa lateral da exposição, fazendo uma certa algazarra, e, com um aceno de Tunga, a arruaça se generalizará sob a forma de um bloco que desfilará arrastando e rolando os tambores pelo chão, uma verdadeira “hecatombe musical”. Cada menino deverá encontrar seu lugar no espaço do museu, abrir um tambor, e improvisar um uso musical dos instrumentos, com a única ressalva de evitar qualquer alusão a referências conhecidas.
            Na interpretação de Suely Rolnik, Tunga assim problematiza a ambigüidade imanente da relação do baiano com o ritmo: por um lado, essa relação privilegiada amplia muito as oportunidades de trabalho para os músicos baianos, mas por outro lado, o ritmo tem a tendência de ser clonado e destituído de sua vitalidade, para ser devolvido ao mercado como um conjunto limitado de trejeitos estereotipados, mímica empobrecida que forma a identidade prêt-à-porter ‘estilo baiano’: a axé music, que é a vampirização do axé.
         O museu, segundo Rolnik, vira um híbrido de arte e terreiro, e os ‘restos’ da apresentação ficam espalhados pelo museu (por isso a ‘instauração’), como restos de despachos na natureza ou em encruzilhadas das cidades.