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segunda-feira, 30 de maio de 2011

tunga


como perturbar o familiar para ativar a função política da arte:
      
        1) Cem Terra: 100 office-boys ocupando um quarteirão de uma avenida. Os Office-boys, que são invisíveis  aos olhos dos habituais da avenida, ganham uma existência na paisagem, agora não mais passível de ser ignorada: o espectador/transeunte é obrigado a vê-los.

            2) Tereza: um grupo de sem-teto usa cobertores para fazer tranças, como as que os presidiários fazem para fugir da prisão. Os sem-teto utilizam-nas para fugir do museu ou da galeria de arte onde a instauração se faz.

            3) Parceria entre A quietude da terra e o Projeto Axé: (2000 - Salvador BA - A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé, no MAM/BA) abertura da exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia. No museu, Tunga coloca dentro de tambores vários utensílios artesanais feitos de folha-de-flandres, que imitam os de alumínio fabricados industrialmente, recriando à sua maneira, no dia-a-dia das casas mais humildes, um certo cenário das casas mais ricas. São funis, raladores, assadeiras, lamparinas etc.
            Os garotos do Projeto Axé estarão reunidos numa lateral da exposição, fazendo uma certa algazarra, e, com um aceno de Tunga, a arruaça se generalizará sob a forma de um bloco que desfilará arrastando e rolando os tambores pelo chão, uma verdadeira “hecatombe musical”. Cada menino deverá encontrar seu lugar no espaço do museu, abrir um tambor, e improvisar um uso musical dos instrumentos, com a única ressalva de evitar qualquer alusão a referências conhecidas.
            Na interpretação de Suely Rolnik, Tunga assim problematiza a ambigüidade imanente da relação do baiano com o ritmo: por um lado, essa relação privilegiada amplia muito as oportunidades de trabalho para os músicos baianos, mas por outro lado, o ritmo tem a tendência de ser clonado e destituído de sua vitalidade, para ser devolvido ao mercado como um conjunto limitado de trejeitos estereotipados, mímica empobrecida que forma a identidade prêt-à-porter ‘estilo baiano’: a axé music, que é a vampirização do axé.
         O museu, segundo Rolnik, vira um híbrido de arte e terreiro, e os ‘restos’ da apresentação ficam espalhados pelo museu (por isso a ‘instauração’), como restos de despachos na natureza ou em encruzilhadas das cidades.