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domingo, 5 de junho de 2011

cine-rock de terça, 07-11

palmeira - 11:00 da manhã
campus arapiraca - à tarde

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Nelson Freire (João Moreira Salles, 2003)

Nelson Freire: uma investigação sobre o recato e o pudor

O documentário de João Moreira Salles, Nelson Freire, acompanha a trajetória do virtuose mineiro, entre viagens e retratos cotidianos, ao longo de dois anos. Seu filme, estruturado em 31 episódios autônomos entre si, constitui um ensaio sobre “um dos segredos mais bem guardados do mundo do piano”. Sobre o pianista e sua relação com o instrumento, sobre a música e o silêncio como meios de comunicação.
O filme de Salles, assim como 32 curtas sobre Glenn Gould de Fraçois Girard, opta pela estrutura episódica, fragmentando a narrativa e possibilitando explorar com maior genuinidade o universo particular do personagem (não edificado no campo verbal). A abordagem, tendo em vista a timidez e o recato de Freire, permite captar pequenos momentos, registrar vislumbres e mesmo deflagrar a convivência estabelecida entre músico e realizador.
É notável, em vários aspectos, a influência do ser e do interagir de Freire na composição fílmica. A começar pela estratégia do diretor que, para captar a essência e não a alteridade do menino prodígio, instaurou uma relação de aproximação gradativa. A princípio distante, para que o aparato cinematográfico não apresentasse motivo de inibição e acanhamento por parte do pianista. Mais tarde, íntimo e conivente devido ao processo de estreitamento da câmera com o “objeto” de representação, sutilmente construindo um entendimento internalizado entre ambos e, numa leitura secundária, entre o espectador. No episódio intitulado “TV”, por exemplo, enquanto Nelson é entrevistado por um jornalista francês que pede para que ele repita determinada frase com “um sotaque mais brasileiro”, ele troca olhares cúmplices com a câmera do documentário. Olhares que comentam sua posição em relação ao pedido e, conseqüentemente, evidenciam uma vivência comum e anterior. Da mesma forma, é essencial capitular que a entrevista que percorre todo o filme apenas foi realizada no último dia de filmagem. (http://www.ufscar.br/rua/site/?p=53)
 

fada verde



sucessão reitoria ufal

Link para o vídeo do protesto dos alunos da UFAL - Maceió, sobre a falta de estrutura dos cursos da Área de Artes, na capital. Em Arapiraca, nem podemos ter essa discussão, já que a Universidade Federal de Alagoas desconsidera em absoluto o valor da Arte para nós, interioranos: http://gazetaweb.globo.com/v2/videos/video.php?c=10917.

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Reproduzo, também, trecho de e-mail enviado por mim ao grupo de professores, em apoio à candidatura da profa. Valéria e da Chapa 1 à sucessão da atual reitoria:

"Sofri vendo a tecla preta do piano, quebrada, e os estudantes de Música sem condições de trabalho. Sofri mais porque meu irmão é afinador de pianos (http://afinacaodepianos.blogspot.com/), realizando ótimo trabalho na região Sudeste, e meu pai é professor titular aposentado de Piano da UNICAMP (http://www.myspace.com/fernandolopespianista), além do restante de minha família estar ligado também às Artes e à Música, em particular.
Por que nós não podemos ter essa Cultura aqui no Nordeste?? Se não é a UFAL que pode possibilitá-la, quem poderá???"

vamos legalizar a maracutaia! oba!

"Legalista leitor, legal leitora, está para ser aprovada pelo Senado a Lei de Incentivo ao Esporte. É uma péssima lei. Uma lei que vai concentrar renda e que facilitará a corrupção.
A coisa vai funcionar, ou não funcionar, assim: as empresas poderão aplicar até 4% de seu Imposto de Renda [IR] devido (e as pessoas físicas, 6%) em esporte. Ou seja, se uma grande empresa vai pagar 100 milhões de IR, poderá pegar R$ 4 milhões e aplicar num projeto esportivo devidamente cadastrado para receber a bufunfa. Parece bom, mas não é. Pelo contrário. De cara, há um problema ético: teremos empresas privadas gerenciando dinheiro público. É como se o leitor decidisse que parte do imposto que ele paga fosse usado para asfaltar sua própria rua.
            Não é essa a idéia do IR. A idéia é fazer uma redistribuição, e essa redistribuição é um trabalho do governo. Para isso é que ele existe. A lei também vai favorecer o apadrinhamento e a corrupção. Por exemplo, um corrupto gerente de marketing pode propor a um clube o seguinte: "Eu dou R$ 1 milhão para o seu clube, mas você me devolve metade e cobre a diferença com umas notas frias".
Ou então a empresa pode beneficiar entidades que estejam envolvidas com amigos, e assim um sensível empresário poderá dizer: "Vou dar este dinheiro para a equipe de equitação do Armandinho, assim eles poderão importar alfafa da Ucrânia. É muito mais fofinha". Em tese, o dinheiro de nossos tributos deveria obedecer a uma meritocracia, ou a uma escala de necessidades. Mas vai acabar obedecendo ao cunhadismo, ao nepotismo, ao filhismo. Mais valerá ser amigo de infância de um dono de empresa do que ter um trabalho sólido no esporte.
E não me venha dizer que as empresas privadas terão interesse em expor sua marca da melhor maneira possível e blablablá. Papo furado! O dinheiro do marketing e da publicidade é outro. Este é um perdão fiscal, e a maneira de ele se tornar mais rentável é ir direto para o bolso de alguém. Há também o problema da concentração de renda. Pense bem, leitor, fosse você dono de uma empresa, onde iria gastar os seus 4%? Num grande time de futebol ou numa escolinha de ginástica olímpica da periferia? Talvez a madre Teresa de Calcutá gastasse na escolinha, mas o resto da humanidade...
E, pior que isso, a proposta de lei não faz clara distinção entre doação e publicidade. Ou seja, o governo estará pagando a publicidade de muitas empresas por aí. No cinema brasileiro, é utilizada uma lei muito parecida, a Lei do Audiovisual. E também não deu certo.
O que aconteceu lá, além de várias suspeitas de corrupção, foi uma brutal centralização dos recursos pela GloboFilmes. E essa é uma conseqüência óbvia, afinal, se eu fosse investidor, também ia preferir vincular minha empresa a um filme que está vinculado a uma poderosa rede de TV, e não a cineastas independentes. Ou seja, no final das contas, leis como essa servem para dar dinheiro a quem já tem, e não para apoiar projetos de base.
O melhor seria que esses impostos fossem para um fundo, e então comissões especializadas decidiriam para onde ele iria. Aí, sim, teríamos uma meritocracia. Lula (em quem, confesso, votei) bateu o tempo todo em Alckmin por conta da privatização peessedebista, mas vai começar seu novo mandato privatizando as suas obrigações, que são definir prioridades e dizer para onde vai ou não o dinheiro dos impostos.
O governo pode não privatizar empresas, mas privatiza seu próprio dinheiro e terceiriza seu trabalho. Lamentável." (José Roberto Torero. Folha de São Paulo, quinta-feira, 7 de dezembro de 2006)

mídia e educação

 
“A mídia é uma organização relativamente recente no âmbito do modo de produção capitalista. A universidade é uma instituição com o dobro de idade do capitalismo. São, portanto, incomensuráveis. E, na medida em que a primeira produz valor de troca para o mercado, e a segunda, um valor de uso livre como o conhecimento, são além do mais incompatíveis. Os meios de comunicação de massa são um ramo da indústria cultural e, nessa condição, produzem artigos de consumo ideológicos com vista à reprodução ampliada do capital investido, baseada, por sua vez, na exploração econômica do trabalho assalariado. [...] Uma universidade produz pensamento de modo organizado — por isso é uma instituição que forma pela verificação mútua de um aprendizado comum. E, assim sendo, está na contramão do conformismo social de que a mídia carece — e intensifica — para melhor escoar sua mercadoria, que passa por informação, embora seja apenas uma versão a mais de um mesmo estado de coisas inamovível. A universidade, ao contrário, é por definição crítica e visa a transformação social. Não só incomensuráveis e incompatíveis, mas acima de tudo, antagônicas.”
(Paulo Arantes, professor de filosofia da USP, em entrevista à revista Caros Amigos, ano VIII, n. 87, junho 2004, p.27)
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          “No Brasil, a concepção dominante acerca da excelência ou ‘qualidade’ da educação é quase sempre vinculada às possibilidades de êxito nos exames vestibulares. Assim, uma ‘educação de qualidade’ é aquela cujos efeitos representam a possibilidade de ascensão ou permanência num restrito grupo de indivíduos privilegiados econômica e socialmente. Daí porque acreditamos poder ‘medir’ a qualidade da educação a partir de testes que verificam o domínio – ou a ausência – de informações ou ‘competências’ necessárias ao êxito do individuo ‘na vida’, leia-se ‘no mercado’. Não se trata, pois, de uma formação para a liberdade da vida da polis, mas para o êxito econômico privativo do indivíduo, ou, numa versão eufemística, para seu bem-estar pessoal. Não é surpreendente, pois, que grande parte dos discursos acerca de uma ‘educação libertadora’ passou, progressivamente, a se referir à ‘liberdade individual do educando’, à importância do atendimento de seus interesses e necessidades por meio da renovação dos métodos de ensino, dando um tom técnico-pedagógico ao que era um ideal ético-político.”
(José Sérgio de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da USP, em entrevista à revista Caros Amigos, ano 8, n. 90, setembro 2004, p.39)