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domingo, 4 de julho de 2010

experiência de filosofia cotidiana n.36

“36. Tirar o som da televisão

Duração: cerca de 5 minutos
Material: uma televisão ligada
Efeito: instrutivo

Raramente olhamos de verdade para a televisão. Mesmo aqueles que passam muito tempo diante dela não a observam verdadeiramente. Na maioria da vezes, apenas a escutam. A imagem-som é dada como tudo, ela faz sentido por si mesma. O que está sendo transmitido pode ser sublime ou estúpido, mas nós nos interessamos, escutamos e vemos um bloco. Não pensamos muito nas imagens, na sua estranheza.
Comece por tirar o som e olhar. Você se sentirá ridículo no início. Há coisas engraçadas, pessoas discutindo, se exaltando e se excitando sem saber o porquê; apresentadoras que gesticulam e sorriem afetadamente, antes do anúncio. São hilários os cantores sem voz, os jornalistas mudos, os atores que movem a boca sem proferir um som e falam em silêncio, os anúncios sem música nem entusiasmo.
Isso não é o pior. Sob o ridículo, profundo e denso, está o terror. Algo de mecânico, de inumano habita esses rostos que continuam a mover lábios em vão e a inflar as bochechas por nada. É diferente da morte, da frieza dos cadáveres, da sua imobilidade branca. É uma agitação esvaziada de vida, um esforço vão de escapar para o nada.
É preciso se livrar disso também, acabar com o que é assustador e com o que é engraçado. Deixar de rir e de ter medo. Avançar entre o ridículo e o maquinal. Ver somente como são essas imagens sem som. No fundo, insípidas, desprovidas de saber, neutras e vazias. Como se vê, a televisão também pode ser fonte de conhecimento.”

(DROIT, Roger-Pol. 101 Experiências de Filosofia Cotidiana. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. P.75)